27.10.06

Consenso IX

Alguns leitores falam de um tal Thomas Kuhn (e também aqui). Nunca li, mas parece-me que não interessa para a discussão. Não estou a discutir como se dá a evolução do conhecimento científico. Estou a discutir como se faz a cada momento a determinação da verdade em ciência. Essa determinação nunca precisou de nenhum tipo de consenso. A avaliação não é feita por comité, nenhum grupo tem o monopólio da avaliação, existem centenas de revistas científicas em competição, cada revista tem vários editores diferente e centenas de revisores. Um artigo que seja rejeitado numa revista pode ser resubmetido e aceite noutra. Um artigo pode ser publicado mesmo quando a maior parte da comunidade científica discorda dele. Podem coexistir ao mesmo tempo várias teorias e várias linhas de investigação incompatíveis sem que daí venha mal algum ao mundo. Sem consenso, sem eleições, sem referendos, sem maiorias ou unanimidades com liberdade total para discordar e, muito importante, igualdade de acesso aos fundos públicos. É esta liberdade total que impede que o poder do momento possa impôr as suas teorias preferidas ao resto da comunidade. Tudo isto é muito frágil. O espírito de comité e a mentalidade de consenso são uma ameaça à liberdade académica, ou pelo menos à igualdade de oportunidades entre linhas de investigação.