31.10.06

O misterioso relatório Stern III

O acriticismo com que são recebidos os relatórios sobre o clima impedem que a opinião pública fique a conhecer as suas debilidade. Para se chegar a um relatório sobre os impactos económicos das emissões do CO2 é necessário:

1. estimar o impacto no clima de todos os factores naturais e antropogénicos (gases de estufa, uso da terra, radiação solar directa, raios cósmicos, aerosois natruais e de origem antropogénica, efeitos de feedback positivos e negativos etc). É sobre isto que é suposto haver consenso, mas pelos vistos há quem discorde.
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2. Construir modelos que descrevam com precisão o clima. Validar esses modelos com dados do passado e rezar para que o futuro seja igual ao passado.

3. Construir modelos económicos que permitam prever a evolução da economia mundial no futuro integrando, entre outras coisas, mudanças tecnológicas sempre imprevisíveis.

4. Usar os modelos económicos para estimar as emissões num cenário Business As Usual.

5. Usar as emissões e os modelos do clima para estimar a concentração futura de gases de estufa.

6. Usar a concentração futura de gases de estufa e os modelos climáticos para estimar a temperatura futura.

7. Usar os modelos climáticos para estimar os impactos ao nível regional de secas, subidas do nível do mar, degelo etc.

8. Estimar os impactos económicos das alterações climáticas.

9. Estimar os impactos das soluções propostas para evitar o aquecimento global.

Cada um destes passos tem um erro associado, a começar no passo 1. Alguém percebeu isso lendo as notícias sobre o relatório Stern? Claro que não. Nenhum jornalista se atreveu a questionar o relatório. E no entanto, o relatório é vulnerável ao fenómeno "Garbage In, Garbage Out".

Actualmente a comunidade científica ainda discute se o passo 1 está correcto. Os passos 2 a 9 são miragens. A incerteza é elevada e há fenómenos que não foram ainda bem estudados, entre eles os raios cósmicos, os efeitos dos aerosois, e os efeitos de feedback entre o aumento da concentração de CO2 e a formação de nuvens ou o crescimento das plantas.

O ponto 2 é altamente duvidoso. Os modelos climáticos ainda estão na sua infância. A dispersão de resultados entre modelos é enorme e os fenómenos citados anteriormente (raios cósmicos, os efeitos dos aerosois, e os efeitos de feedback) não estão correctamente incorporados.

Os pontos 3 e 4 envolvem previsões económicas a 100 anos, um exercício no mínimo arriscado tendo em conta que podem ocorrer mudanças tecnológicas imprevisíveis. Os pontos 5, 6 e 7 dependem dos modelos climáticos. O ponto 7 é aquele em que predominam estudos alarmistas sobre o degelo dos polos e a paragem da corrente do Golfo. Tudo teorias altamente controversas. Os pontos 8 e 9 voltam a depender de modelos económicos.

Segue-se que, graças a uma criteriosa escolha dos factores que afectam o clima, dos modelos climáticos, dos modelos económicos, dos efeitos da evolução tecnológica e do relevo que se dá às teorias mais catastróficas, um estudo económico pode concluir aquilo que o autor quiser.