30.10.06

Nada que se compare


Foram duas páginas inteiras, e não meramente uma coluna. E foi na secção de Cultura, não no corpo geral do jornal. E em duas edições diferentes do Público, e não numa só. Foi há cerca de dez anos quando o autor regressou ao país depois de desempenhar o cargo de adido cultural da Embaixada de Portugal em Paris:

"No decurso do debate, um tal senhor Pedro Arroja, que me dizem ser economista, teve esta frase espantosa "Se os cineastas querem filmes, que o façam com o dinheiro deles, e vendam bilhetes na bilheteira". Foi exactamente assim (nas páginas do Diário de Notícias). (...) O senhor Pedro Arroja, para tristeza da sua alma encardida e para felicidade nossa (...)."###

"Imagino que os directores do Diário de Notícias solicitaram para as crónicas de domingo um "bom economista". Pedro Arroja, excelente humorista, ouviu mal e avançou (...). Em Portugal, não vejo senão Herman José que lhe esteja à altura."

"Vem a seguir o momento marxista de Pedro Arroja. Marxismo algo primário. Suspeito mesmo que, irrecuperavelmente primário, Arroja consegue ser primário mesmo quando é marxista."

"Mas imaginemos, por instantes, que o princípio Arroja tinha validade universal (...). A história da cultura estaria reduzida ao brilho dos Arrojas - isto é, à animalidade elementar (...)"

"Pedro Arroja - o Che Guevara (peço desculpa pelas ofensas à memória do Che) do nosso pensamento neoliberal".

Duas páginas, duas páginas inteiras, e não uma coluna só. O autor - não é de mais insistir - tinha acabado de desempenhar o cargo de adido cultural da Embaixada de Portugal em Paris.