17.6.04

ARISTIDES



Estes textos deveriam ser obrigatórios nas escolas:

"Como informei toda a gente, o meu governo recusou terminantemente todos os pedidos para concessão de vistos a todos e quaisquer refugiados. Tudo está agora nas minhas mãos, para salvar os muitos milhares de pessoas que vieram de todos os lados da Europa na esperança de encontrar refúgio em Portugal. Todos eles são seres humanos, e o seu estatuto na vida, na religião ou cor, são totalmente irrelevantes para mim. Além disso as cláusulas da Constituição do meu país relativas a casos como o presente dizem que em nenhuma circunstância a religião ou as convicções políticas de um estrangeiro [...] o [impedirão] de procurar refúgio no território português. Eu sou cristão e, como tal, acredito que não devo deixar esses refugiados sucumbir. Uma grande parte deles são judeus, muitos [dos quais] são homens e mulheres com situações proeminentes que, devido à sua posição, como dirigentes e outros, sentiram nos seus corações dever falar e agir contra as forças da opressão. Fizeram aquilo que em seus corações era o que devia ser feito. Agora querem ir para onde possam continuar a sua luta por aquilo que consideram justo. Sei que a minha mulher concorda com a minha opinião, e estou certo de que os meus filhos compreenderão e não me acusarão, se por dar vistos a todos e a cada um dos refugiados, eu for amanhã destituído do meu cargo por ter agido [...] [contra] ordens que, em meu entender, são vis e injustas. E assim, declaro que darei, sem encargos, vistos a quem quer que o peça. O meu desejo é mais estar com Deus contra o Homem do que com o Homem e contra Deus."
(...)
Aos filhos presentes disse: "Não sei o que é que o futuro reserva para a vossa mãe, para vocês e para mim mesmo. Materialmente, a vida não será tão boa para nós como tem sido até agora. Contudo sejamos corajosos e tenhamos em mente que, ao dar a esses refugiados a possibilidade de viverem, teremos uma possibilidade mais de entrar no Reino dos Céus, porque ao fazê-lo, não faremos mais do que praticar os mandamentos de Deus."

Aristides Sousa Mendes, a 17 de Junho de 1940, Bórdeus, citado por Rui Afonso, in "Um homem Bom", Caminho Editora, 1995

Hoje, em 30 cidades do mundo inteiro celebra-se a memória da data em que Aristides Sousa Mendes começou a passar vistos livremente. Mais de 30 mil.
Trata-se de uma iniciativa da Fundação Raoul Wallenberg e do Comité Ângelo Roncalli e conta com o apoio do Vaticano e do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal.