2.6.04

DIÁRIO DE CAMPANHA - 1



Num incontido entusiasmo juvenil, o Sr. Deputado João Almeida contou uma história meia pateta sobre «um taxista», «um senhor careca com lunetas esquisitas», «o pai do défice português», e outras delícias que a sua imaginação imberbe e juvenil fez soltar durante um acto público da coligação «Força Portugal».
Logo o seu opositor político (e putativo pai do défice), o Prof. Sousa Franco, cuja inegável inteligência e perspicácia lhe permitem perceber, à légua, estas e outras graçolas, viu que a coisa era com ele e afinou. Respondeu que se sentia ofendido por uma garotada de um partido de «extrema-direita» e «racista», porque, segundo o próprio «a crítica às inferioridades físicas de alguém é o primeiro sinal de racismo». Falou ainda, em linguagem esotérica própria dos iniciado, dos «ovos de serpente» que geram as mais demoníacas forças totalitárias.

Eu não vejo que o jovem Almeida quisesse utilizar vantagens físicas ou estéticas para obter ganhos políticos, até porque, se vamos por esse lado, as fotografias do dito imberbe que a televisão passou à exaustão, não deixam perceber que ali possa estar um Apolo. Embora não seja (ainda) careca (o que, eventualmente será, conforme os gostos, uma vantagem competitiva em relação ao «pai do défice»), ostenta visíveis marcas de acne juvenil, uns óculos démodé tipo Yves Saint Laurent na sua fase mais assanhada dos anos setenta, e uma aparência geral um pouco desgrenhada.
Isso mesmo foi dito por esse gauleiter (já que falamos em racismo...) que é o porta-voz do CDS-PP, o Dr. Pires de Lima, que salientou o facto do pequeno Almeida ter sido obrigado (quem sabe, por uma orelha) a pedir desculpas pela infelicidade que teve, e manifestou o seu espanto e a sua indignação, pelas palavras proferidas pelo «pai do défice», a quem atribuiu «a taça dos insultos» destas eleições.

Em toda esta acesa polémica, só duas pessoas têm demonstrado uma notável contenção e bons modos: o líder da coligação «Força Portugal», o Prof. Deus Pinheiro, e o líder do Partido da Nova Democracia e primeiro candidato da lista do seu partido, o Dr. Manuel Monteiro.
O primeiro, entrevistado depois de um bailarico popular de campanha, onde, pelo que vimos na televisão, dançava com uma boa meia dúzia de senhoras partidárias da coligação («as mulheres social-democratas são as mais belas de Portugal», disse) manifestou o seu desagrado pela falta de nível do debate político. «Eu só falo pela positiva», afirmou, imediatamente antes de regressar à pista.
Já o Dr. Monteiro, seguramente aconselhado pelo técnico de marketing da Srª Thatcher (o mesmo do DigaoManel), tem tido a inteligência de quase não aparecer e praticamente não falar. É uma brilhante estratégia que, a meu ver, bem o poderá catapultar até Bruxelas.
Nos próximos dias continuaremos atentos a este intenso debate sobre a União Europeia e o Parlamento Europeu.