21.2.07

Aconteça o que acontecer (again)

(texto publicado no dia 7 de Dezembro de 2004)

Aconteça o que acontecer, hoje vou ao Dragão. Estarei lá por tudo e apesar de tudo. Pelo clube de que sou sócio há 27 anos. Para apoiar a minha equipa que está num momento mau.
Para aplaudir com todas as minhas forças o melhor treinador que já vi no futebol.
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Que me importam os escândalos forçados, as medidas de coacção excêntricas, os títulos da imprensa lisboetizada, os boatos com que alguns julgam emprestar veracidade à descomedida "lenda encarnada"?
Sei que o meu clube ganhou quase tudo o que havia para ganhar só porque foi melhor, muito melhor, do que os outros. Na inteligência, nos jogadores, nos técnicos, na atitude, na vontade e no talento. Percebo que essa superioridade está hoje patente, para todos os que gostam de futebol, no Chelsea e no Barcelona só para falar dos anos recentes.

Tal como a esmagadora maioria dos sócios e adeptos do Porto que conheço, não quero saber dos prostíbulos alternadeiros ou de quem por lá anda.
Desdenho todas as claques: os grupúsculos de rufiões organizados que uivam profissionalmente à volta dos relvados. Rejeito ser confundido com tal gente.

Sou do Porto.
Pertenço a um clube maior do que qualquer um dos seus dirigentes do passado ou do presente, por muito que lhes esteja grato.
Sou de um clube que é mais do que um clube, simbolicamente superior à região onde nasceu de que é a bandeira mais eloquente, representando a saudável rebeldia que a enobrece.

Sou do Porto.
Pertenço a um estado de alma que diverge do resto do país imerso em fado choradinho, pedinchão e tresmalhado na promiscuidade com os poderes públicos.
Faço parte do grupo de gente que resistiu aos intuitos terceiro-mundistas da ditadura católica em construir artificialmente um clube oficial do Estado (como depois também o fez Ceausescu com o Steua).
Reconheço-me na diferença da gente indomável que não aceita ter dono ou integrar manadas acéfalas que seguem o caminho que outros gizaram para si.
Sou de um clube que há mais de 20 anos contrasta com a decadência deste país tornado pequeno face à sua dinâmica recente - o F. C. do Porto é a excepção portuguesa!

Sou do Porto - por isso hoje vou ao Dragão. E aí estarei feliz ao lado da minha gente, aconteça o que acontecer, dentro ou fora do campo, sabendo que de lá sairei tal como entrei: adepto da instituição mais digna, mais livre e com mais sucesso que este país conhece no tempo presente.