7.12.04

ACONTEÇA O QUE ACONTECER

Aconteça o que acontecer, hoje vou ao Dragão. Estarei lá por tudo e apesar de tudo. Pelo clube de que sou sócio há 27 anos. Para apoiar a minha equipa que está num momento mau.
Para aplaudir com todas as minhas forças o melhor treinador que já vi no futebol.

Que me importam os escândalos forçados, as medidas de coacção excêntricas, os títulos da imprensa lisboetizada, os boatos com que alguns julgam emprestar veracidade à descomedida "lenda encarnada"?
Sei que o meu clube ganhou quase tudo o que havia para ganhar só porque foi melhor, muito melhor, do que os outros. Na inteligência, nos jogadores, nos técnicos, na atitude, na vontade e no talento. Percebo que essa superioridade está hoje patente, para todos os que gostam de futebol, no Chelsea e no Barcelona só para falar dos anos recentes.

Tal como a esmagadora maioria dos sócios e adeptos do Porto que conheço, não quero saber dos prostíbulos alternadeiros ou de quem por lá anda.
Desdenho todas as claques: os grupúsculos de rufiões organizados que uivam profissionalmente à volta dos relvados. Rejeito ser confundido com tal gente.

Sou do Porto.
Pertenço a um clube maior do que qualquer um dos seus dirigentes do passado ou do presente, por muito que lhes esteja grato.
Sou de um clube que é mais do que um clube, simbolicamente superior à região onde nasceu de que é a bandeira mais eloquente, representando a saudável rebeldia que a enobrece.

Sou do Porto.
Pertenço a um estado de alma que diverge do resto do país imerso em fado choradinho, pedinchão e tresmalhado na promiscuidade com os poderes públicos.
Faço parte do grupo de gente que resistiu aos intuitos terceiro-mundistas da ditadura católica em construir artificialmente um clube oficial do Estado (como depois também o fez Ceausescu com o Steua).
Reconheço-me na diferença da gente indomável que não aceita ter dono ou integrar manadas acéfalas que seguem o caminho que outros gizaram para si.
Sou de um clube que há mais de 20 anos contrasta com a decadência deste país tornado pequeno face à sua dinâmica recente - o F. C. do Porto é a excepção portuguesa!

Sou do Porto - por isso hoje vou ao Dragão. E aí estarei feliz ao lado da minha gente, aconteça o que acontecer, dentro ou fora do campo, sabendo que de lá sairei tal como entrei: adepto da instituição mais digna, mais livre e com mais sucesso que este país conhece no tempo presente.