3.2.07

Diz o João Miranda

«... É mesmo isso que está em causa quando se passa de um sistema regido por um tabu ancestral para um sistema regido pela vontade de cada mulher...»

Lamento discordar. O "sistema" ancestral não era regido por nenhum tabu que se assemelhasse àquilo que estás a querer significar. Desde sempre, os desmanchos se fizeram - e quase sempre seguindo a vontade da mulher. Na verdade, poucos comportamentos serão tão ancestrais como esse. O afastamento da vontade da mulher veio depois, muito depois. Trata-se de uma lógica que é produto de sistemas legais impostos à força contra a vontade dos povos, i.e. de fora para dentro - aliás, contemporâneos e sintonizados com o surgimento do Estado moderno.
As pessoas, sempre que podiam, voltavam a refugiar-se no seu direito costumeiro. Entre nós, até bastante tarde, nas zonas rurais, muitos comportamentos continuram a ser regidos pelo costume - incluindo, claro, os desmanchos - numa busca contínua de escaparem ao controle do Estado e de outras estruturas administrativas.
O teu raciocínio, João, no mínimo, peca por excessivo milenarismo. E embora não seja especificamente a este propósito, JPP, ao responder a Sarsfield Cabral, diz bastante sobre o tema.