4.7.04

DIÁLOGOS IMAGINÁRIOS (ENTRE O MAIS ALTO MAGISTRADO E UMA ALTA INDIVIDUALIDADE)



Alto Magistrado (AM): Obrigado por ter vindo, caro amigo.
Alta Individualidade (AI): Não tem de quê. Estou sempre na primeira linha da defesa da Pátria.
AM: A família, os negócios, vão bem?
AI: Tanto quanto é possível, Excelência.
AM: Pois, pois? compreendo. O Zé Barroso deixou-nos de tanga.
AI: Malandro!
AM: E ainda anda por aí a rir-se, o palerma. Anda com cara de quem comeu e gostou. Pôs-se a andar e ainda se ficou a rir.
AI: Pirou-se para Bruxelas. Vai comer do bom e do fino, andar de braço dado com os grandes deste mundo. Largou a choldra! Bem nos tramou.
AM: A «choldra»?! Ora essa! Aqui mando eu. Sempre podia passear-se comigo.
AI: Tem V. Exª razão. Os meus sentimentos.
AM: Bom, bom, vamos ao que interessa, que tenho uma bicha lá fora à espera.
AI: Uma bicha?...
AM: Sim, uma bicha, uma fila indiana, uma cambada que aguarda ser recebida.
AI: Peço perdão, Exª. É que ainda há pouco estive no Brasil.
AM: Em negócios?
AI: E em defesa da Pátria, pois então. Nas praias do Nordeste.
AM: Bom, o caso é este: deixaram-me aqui sozinho: o Zé Barroso pôs-se a andar para Bruxelas quase sem dar cavaco.
AI: Cavaco?
AM: Sim, sim, sem me dizer nada. Olha que foi de um dia para o outro.
AI: Que horror! Não se faz!
AM: Não faz mal. Já estou habituado. Com o outro foi na mesma. E também se ficou a rir.
AI: Esse também não era grande peça. Sacrista!
AM: Deixe-se disso, que aqui não estigmatizamos ninguém. Muito menos os que trabalham para o Altíssimo!
AI: Altíssimo?!, mais ainda que V. Exª?
AM: Não seja bruto: o Altíssimo, o Vaticano!
AI: Ah!... isso. Sim, sim, já lá fui com a patroa ao beija-mão.
AM: Bem não interessa. O problema é que agora tenho de lá pôr outro. De um não gosto. No outro não confio. E não resta mais ninguém.
AI: Aonde, no Vaticano?
AM: Não, para o lugar do Zé.
AI: Que maçada! E aquele rapaz que era para ficar com o lugar com que ficou o Zé Barroso?
AM: É uma jóia!
AI: Uma jóia?
AM: Sim, um mimo, um talento, um portento?
AI: Grandes adjectivos.
AM: Ele é grande, também. Na dimensão política, pelo menos. Mas só vem em Novembro e há que decidir agora: eleições ou coligações?
AI: Ai que dilema, meu Deus. O povo que decida! Se só ele é soberano!
AM: Tem razão. Obrigado, meu Amigo. Até sempre. Manuela, mande entrar o próximo.
Manuela: São os comendadores «Xutos e Caneladas».
AM: Ainda bem, ainda bem. Isto só lá vai com muita música.