17.7.04

FREAKS

Por razões profissionais, vi-me obrigado, ontem à noite, a percorrer a A2, no sentido Lisboa-Algarve.
Tenho muitas centenas de milhares de quilómetros no meu curriculum automobilístico, já vi e passei por muita coisa, e não sou facilmente sugestionável com o trânsito. Porém, o que ontem passei está para além do imaginável.
Descontemos o facto de ter viajado numa sexta-feira, ao princípio da noite e num fim-de-semana de calor intenso, para o Algarve, destino nacional de três em cada duas famílias cristãs portuguesas que gostam de praia. O trânsito estava intenso, mas isso não me impressionou por aí além e, na verdade, nem contava com outra coisa.
Mas, do que não estava à espera, era com um pestilento enxame de motards que se deslocava estrada abaixo, até Faro. Parece que nesta simpática parvónia, cuja qualidade das acessibilidades rodoviárias é bem conhecida, se realizava ontem a maior concentração europeia, e a segunda maior do mundo, dessa abominável espécie. Eram aguardados mais de 10.000 tipos em cima de outras tantas motas. Durante a viagem cruzei-me com centenas de motards em fúria. Tipos que viajam aos pares (cheguei a ter à minha frente quatro motas a par), em grupos, com os máximos ligados, a velocidades loucas, fazendo ultrapassagens de qualquer forma e feitio, atirando-se, por vezes, literalmente para cima dos carros, e que estacionam nas bermas da auto-estrada como na garagem das suas casas. Em 250 km de estrada, nem um único carro da Brigada de trânsito: numa sexta-feira de verão, à qual acrescia esta espantosa reunião.
 
Eu não ponho em causa o direito de reunião seja de quem for. Apesar do manifesto mau gosto que, a meu ver, consiste um ajuntamento de milhares de tipos que idolatram objectos com duas rodas, a beberem cerveja e a ouvirem música tecno, não quero saber do assunto. Desde que ele não invada a minha privacidade, o meu direito à segurança, que é, de resto, pago por uma taxa à concessionária da auto-estrada e pelos meus impostos ao Estado.
Numa sociedade liberal, a liberdade individual termina (ou deve ser limitada) quando põe a dos outros em causa. A meu ver, num país sem condições rodoviárias de razoável segurança, semelhantes manifestações não deviam ser autorizadas.