7.7.04

O mundinho de Jorge Sampaio

A capa do jornal Público está aqui a dizer-me qualquer coisa. Será "eleições antecipadas"?

Na página 2, a porta-voz do Palácio de Belém meteorologista jornalista Ana Sá Lopes diz que o clima em Belém é favorável às eleições antecipadas.

Mas, nunca se sabe, o clima é muito imprevisível.

Parece que os assessores do Presidente já decidiram que querem eleições antecipadas. Só não sabem porquê. Se disserem que não gostam de Santana Lopes ficam mal na fotografia. Por isso, tem de ser por outro motivo qualquer.

E foi neste ponto que alguém se lembrou da estabilidade. Boa! A estabilidade! Porque é que ninguém se lembrou da estabilidade antes.

A tese é: esta legislatura só vai durar mais 2 anos. O governo da coligação pode fazer uma política eleitoralista até às próximas eleições. Se formos para eleições, a próxima legislatura dura 4 e o governo saído das eleições pode governar a longo prazo.

Um argumento perfeitamente válido ... a meio de qualquer legislatura qualquer que seja o governo. Todos os governos em todas as legislaturas tomam as medidas mais dificeis nos primeiros 2 anos e as medidas mais populares nos 2 últimos. Logo, devem ser convocadas eleições de 2 em 2 anos. Assim, os governos só tomam medidas difíceis.

O problema é que, se forem convocadas eleições de 2 em 2 anos, como parece estar tornar-se um hábito, os governos passam a tomar medidas populistas sempre, porque nunca se sabe quando é que o presidente se lembra de convocar eleições.

A tese dos assessores do PR é complementada com a convicção de que o governo já perdeu o apoio popular. Mas todos os governos perdem o apoio popular a meio do mandato. Logo, todos os governos devem ser demitidos a meio do mandato. Se o Presidente da República passar a convocar eleições sempre que os governos perdem apoio popular, então os governos passam a estar em campanha permanente.

Tolo foi o Barrosso, que planificou a acção do governo para 4 anos. Devia ter feito uma política eleitoralista durante todo o último ano. Ganhava as europeias e ganhava as legislativas antecipadas. O próximo primeiro-ministro não será tão tolo.

Se o presidente fizer doutrina, e neste ponto a doutrina é a de que não há doutrina nenhuma, o próximo governo não vai durar 4 anos. Não é sequer certo que venha a haver governo. Se, por exemplo, nas próximas eleições a direita tiver maioria relativa (coligação mais votos que o PS) e a esquerda maioria absoluta (BE+CDU+PS com mais votos que a coligação), quem governa, a esquerda, ou a direita? E se, nas próximas autárquicas, o governo for derrotado, não têm que ser convocadas eleições legislativas outra vez? E se for eleito um presidente da oposição, como é que é? Legislativas outra vez?