13.7.04

Sem título

Maria de Lurdes Pintassilgo era uma senhora que eu muito admirava. De quem gostava ler e ouvir. Sobre tudo.

Raramente ou mesmo nunca estava de acordo com as suas opções e propostas políticas. Não interessa. Acontece com tanta gente.
O que admirava, o que eu aprendia com ela, era um outro ponto de vista. Uma forma diferente, enquadrada, globalizante e internacionalista de colocar e enquadrar os problemas e as soluções. A sua formação pessoal, profissional, política e social era notável. Era, independentemente de outros considerandos, uma pessoa bem formada.

Em termos de lutas políticas há que reconhecer a sua determinação e exemplo em prol da libertação e igualdade das mulheres. Na sociedade portuguesa. Mas sobretudo na Igreja, onde se não teve sucesso prático, teve real influência em tantos e tantos debates ao longo de décadas. O seu exemplo, sei bem, influenciou uma nova leitura e vivência de tantas e tantos católicos. A sua fé, a independência, a forma e a atitude como encarava o serviço público e a política era aquilo que eu mais nela valorizava.

Em profundo desacordo com as suas propostas concretas socializantes, nem por isso deixei de ter sempre prazer em a ler. Geralmente, confesso, só até ao penúltimo parágrafo.

E por tudo isto, pela sua profunda fé e subsequente acção social e intelectual, estranho, (ou se calhar já não) que, tal como muito bem chamou a atenção o Cibertúlia, nenhum dos senhores bispos se tenha dignado estar presente no seu funeral.