Os dirigentes profissionais de duas sociedades anónimas, que visam criar valor, obter lucros e remunerar os seus accionistas, resolveram esta semana tudo fizer para denegrir o produto que vendem e incentivar os consumidores ao não-consumo. Estranho não é?
Entretanto, centenas de pessoas livres, (ia escrever ?no uso das suas faculdades mentais? mas pareceu-me exagerado ou no mínimo duvidoso), irão sujeitar-se a viajar entre duas cidades escoltados por forças policiais. Aceitarão ir à casa de banho, comprar tabaco ou comprar uma sandocha apenas onde e quando as forças de segurança autorizarem. Ainda há pastores e rebanhos. A transumância de Outono. Estas pessoas aceitarão que as forças policiais os acompanhem, os vigiem durante todo o tempo e trajecto que efectuarem nas redondezas de um recinto desportivo. Mais, uma vez no interior do recinto ver-se-ão permanentemente vigiados, fotografados, filmados e empurrados, quais carneiros, por centenas de agentes de segurança. Correrão riscos físicos e colocarão outras pessoas em igual risco ao tentarem arremessar isqueiros e garrafas de água, actividade lúdica preferida destas pessoas, devidamente acompanhadas de expectorações lançadas a incríveis velocidades e distâncias. As suas técnicas gestuais de apontar dedos e cruzar braços em direcção (toda uma elaboração desconstrutiva da linguagem...), aos seus oponentes, ver-se-á certamente incentivada ao receber dos seus oponentes iguais demonstrações comunicacionais. Num fenómeno assaz característico, aparentemente todos conhecem as mães de toda a gente, incluindo as dos profissionais em campo, agentes de segurança e restantes assistentes. Estranho não é?
É certo que as forças policias informaram já o público em geral de que se tratará de um evento no qual o risco de ocorrerem confrontos violentos é muito elevado. Já não via uma declaração como esta, simultaneamente de aflição e impotência há muito tempo. Mesmo assim, milhares de pessoas estarão dispostas a pagar caro por esse risco. Estranho não é?