Dizem que Rocco Buttiglione é um homem muito inteligente. Extremamente culto. Distinto Professor de Filosofia. Segundo parece, é o chefe da organização Comunhão e Libertação - uma espécie de "Nova Rede" da Opus Dei. Alguns jornais já garantiram que é ele quem auxilia o Papa a escrever as Encíclicas.
Mas tem também uma longa carreira política, desde os anos 70. Foi ministro de Itália, onde a política não é um mundo terno e atreito a ingenuidades.
Sendo assim, é legítimo perguntar porque razão alguém com essas qualidades aproveitou as últimas semanas para afirmar uma torrente de disparates, exactamente nas vésperas da aprovação da lista de comissários pelo Parlamento Europeu?
Que bicho terá mordido o Prof. Buttiglione para que sentisse esta irreprimível pulsão de dizer - justamente agora! - que a homossexualidade é pecado e contra a natureza das coisas (o que terá pensado o colega inglês, o comissário Peter Mendhelson, deste anátema?), que as mães solteiras são uma espécie aberração social que põe em perigo a integridade dos seus rebentos, que a sua imagem acerca do papel das mulheres nos nossos dias corresponde à prioridade do seu dever de procriar incessantemente, devendo, assim, ficar por casa devidamente protegidas por um solícito macho, etc., etc.???
O anacronismo patente e a inoportunidade do Prof. Buttiglione só me parecem ter duas explicações possíveis:
1. O homem não tem o brilhantismo que todos lhe atribuem. Vive noutra época, não percebe a actual, é grosseiramente desastrado e fala antes de pensar.
É possível. Estou farto de verificar que luminárias muito publicitadas quando dizem o que realmente lhes vai na alma revelam coisas muito pequenas (relembro, a título de exemplo, a extraordinária entrevista do Reitor da Católica à RR, há cerca de 3 semanas).
2. O homem fez de propósito. Queria o martírio, a vitimização, ser chumbado por um putativo delito de opinião. Estrategicamente, ele e a sua organização pretendiam criar uma ruptura, uma fractura que trouxesse para a ribalta uma suposta "perseguição" dos laicos e dos "jacobinos" contra os homens de fé.
Quid juris?