5.10.04

Re:E se o Colégio Luso-Francês mudasse para a Pampilhosa da Serra?

1. Vital Moreira diz o óbvio: o sucesso escolar depende essencialmente da origem social.

2. Uma ideia que não abona muito a favor do mito de esquerda do papel emancipador da escola pública. Um estado que aposta deliberamente na educação favorece os educados que tenderão a ocupar os cargos mais bem pagos da função pública.

3. Mas não é por o sucesso escolar depender essencialmente da origem social que devemos concluir que os rankings são inúteis.

4. Saber é sempre melhor que não saber.

5. E graças aos rankings ficamos a saber coisas muito interessantes.

6. Ficamos a saber que em Coimbra existem duas escolas com resultados completamente diferentes. Porquê? Vital Moreira diz que é por causa da origem social dos alunos.

7. Sendo assim, um homem de esquerda terá que fazer a pergunta dolorosa: porque é que há segregação no ensino público 30 anos depois do 25 de Abril? Porque é que em todas as cidades do país existe uma escola pública para ricos e outra, que muitas vezes está mesmo ao lado, para os pobres? E porque é que em todas as escolas existe uma turma para os filhos das pessoas mais favorecidas lá da terra?

8. Ora isto não acontece sem a cumplicidade dos professores, dos sindicatos e dos burocratas do ministério da educação.

9. Se o ensino privado é elitista, o ensino público é o quê?

10. Os resultados de uma escola dependem de facto da origem social dos seus alunos. Mas também dependem da qualidade dos respectivos professores, da organização interna, da estabilidade do corpo docente etc, etc. Para um pai é indiferente. O que os pais querem saber é qual é a escola que tem um ambiente geral melhor, e a qualidade dos futuros colegas do seu filho é tão importante como a qualidade dos professores.

11. Vital Moreira diz ainda que:
o financiamento público das escolas privadas, para além de desviar recursos das escolas públicas, que bem precisam de ser melhoradas, e de ser financeiramente incomportável (dado que o Estado não poderia reduzir correspondentemente o financiamento das escolas públicas), traduzir-se-ia sobretudo em subsidiar um privilégio dos mais ricos.


Ora, se há um desvio de alunos da escola pública para a privada, se os ricos também têm direito à escola pública, porque é que o desvio de alunos não pode ser acompanhado do desvio do respectivo financiamento? Será que os custos da escola pública não diminuem com o número de alunos? Vital Moreira sugere que não. Não, porque o estado é um mau gestor do sector público e por isso não se consegue ajustar à procura e tem que ter um financiamento que é independente da procura. Mas o que está aqui em causa é a liberdade de cada um para decidir o fornecedor do seu direito constitucional à educação. E o estado tem obrigação de dar essa liberdade.