Quando se lêem os argumentos dos defensores mais folclóricos do «não» francês á Constituição europeia, especialmente os provenientes das forças mais conservadoras e retrógradas daquele país, como sejam os comunistas, trotkistas, socialistas radicais, agricultores e lepenistas, quase que somos forçados, por reacção contrária, a ganhar alguma simpatia pela Constituição europeia e por uma eventual vitória do «sim».
Calma, não é o caso. Só que em França é tudo ao contrário. Um observador externo pode ficar confuso.
Chirac e outros defensores do «sim» argumentam que a Constituição Europeia (CE) evitará uma Europa liberal e «anglo-saxónica», permitirá a formação de instituições fortes, defenderá os interesses e a relevância internacional da França, manterá a Política Agrícola Comum, permitirá tornar a UE uma potência em matéria de política internacional e outros eteceteras na mesma onda. Tudo bons argumentos para votar não. No campo do «não», defendem, ao contrário, que com a CE, a União Europeia se tornará mais liberal, haverá abertura dos mercados até agora protegidos da concorrência, nomeadamente nos serviços, o «modelo social europeu» correrá riscos e outras «ameaças» aos interesses franceses. Boas argumentações para votar «sim».
Toda esta discussão, de um lado e do outro, é um bocadinho paranóica, sempre em redor do umbigo francês. É aliás interessante verificar que consoante o país em causa, a argumentação vai variando e por vezes é totalmente invertida. Por exemplo, se o Reino Unido é actualmente, nas sondagens, favorável ao «não», é exactamente com argumentos contrários aos do «não» francês.
Assim, um texto que extravasa em muito o que foi solicitado (a simples união e simplificação dos diversos tratados europeus), auto-proposto por uma comissão investida de legitimidade mais do que duvidosa, vai, seguramente, figurar nos anais da história como um texto abortado por excesso de pretensões. O que é uma coisa boa, sejam quais forem os motivos que levarem alguns povos europeus a votar «não». O texto seguinte, que demorará mais uns anitos a realizar, será certamente e felizmente, mais modesto e mais consensual com os interesses dos diversos Estados.
Calma, não é o caso. Só que em França é tudo ao contrário. Um observador externo pode ficar confuso.
Chirac e outros defensores do «sim» argumentam que a Constituição Europeia (CE) evitará uma Europa liberal e «anglo-saxónica», permitirá a formação de instituições fortes, defenderá os interesses e a relevância internacional da França, manterá a Política Agrícola Comum, permitirá tornar a UE uma potência em matéria de política internacional e outros eteceteras na mesma onda. Tudo bons argumentos para votar não. No campo do «não», defendem, ao contrário, que com a CE, a União Europeia se tornará mais liberal, haverá abertura dos mercados até agora protegidos da concorrência, nomeadamente nos serviços, o «modelo social europeu» correrá riscos e outras «ameaças» aos interesses franceses. Boas argumentações para votar «sim».
Toda esta discussão, de um lado e do outro, é um bocadinho paranóica, sempre em redor do umbigo francês. É aliás interessante verificar que consoante o país em causa, a argumentação vai variando e por vezes é totalmente invertida. Por exemplo, se o Reino Unido é actualmente, nas sondagens, favorável ao «não», é exactamente com argumentos contrários aos do «não» francês.
Assim, um texto que extravasa em muito o que foi solicitado (a simples união e simplificação dos diversos tratados europeus), auto-proposto por uma comissão investida de legitimidade mais do que duvidosa, vai, seguramente, figurar nos anais da história como um texto abortado por excesso de pretensões. O que é uma coisa boa, sejam quais forem os motivos que levarem alguns povos europeus a votar «não». O texto seguinte, que demorará mais uns anitos a realizar, será certamente e felizmente, mais modesto e mais consensual com os interesses dos diversos Estados.
Na imagem: «The rape of europe», de Ticiano (1562), Isabella Stewart Gardner Museum, Boston, MA, USA