26.4.05

Bento 16 - Relativistas 0

O Cardeal Ratzinger está a ganhar de goleada aos seus críticos relativistas:

1. Na TSF, Carlos Pinto Coelho discutia, no Domingo de manhã, o relativismo com os seus convidados, membros da Igreja Católica. A dada altura saiu-se com esta: «As verdades não são eternas». O homem que durante anos levou a cultura aos portugueses através do programa Acontece não percebe que a verdade é por definição eterna. Se não é eterna não é verdade.

2. No Diário Ateísta, a Palmira mistura relativismo com teoria da relatividade para concluir que:

o que devemos procurar são as características sociais que permanecem invariantes independentemente do ponto de vista ou referencial de cada um, o que de facto são (ou deveriam ser) as «leis» absolutas da Humanidade ou o que chamo de ética consensual.


O corolário lógico desta posição é que na Etiópia, a excisão feminina deve ser considerada como uma prática correcta porque esse é o consenso ético local. Parece-me que isto de determinar o que é ético por consenso, ou mesmo, como defendem alguns, por maioria, não vai dar bons resultados. E também não é lá muito boa ideia transformar as práticas sociais, por muito invariantes que sejam, em princípios éticos porque até a unanimidade pode estar errada.

3. Até os factos passaram a depender da vontade individual. Ficamos a saber que o Papa é nazi porque quando tinha 14 anos foi forçado a aderir à Juventude Hitleriana. Como todos sabemos, todos os alemães eram nazis.

4. Há quem confunda diálogo religioso com a submissão da Igreja Católica às outras religiões. Assim, Ratzinger é acusado de ser contra o diálogo religioso por defender que a fé católica é superior às outras. Ora, se o Ratzinger não considerasse que a fé católica superior às outras não seria Papa e provavelmente nem seria católico. Ao contrário do que os relativistas pensam, o diálogo entre partes não se faz porque as partes se consideram iguais, mas precisamente porque cada uma das partes se considera com mais razões que a outra. Só nesse caso é que o diálogo é necessário e faz sentido. Num diálogo entre partes não se pode pedir que cada uma das partes abdique do que ela considera fundamental.

5. O Bruno Reis parece defender que existe uma contradição entre o anti-relativismo de Ratzinger e as cambalhotas que ele terá dado ao longo da vida. Pelo contrário. É verdade que um relativista tenderá a mudar de ideias porque o ar do tempo muda, ou porque as conveniências mudam, ou porque apetece. Mas isso não significa que um anti-relativista não mude de ideias. Um anti-relativista não faz a sua verdade. A verdade é um elemento externo que tem que ser descoberto. O anti-relativista tenderá a mudar de ideias sempre que se der conta que aquilo que julgou ser a verdade afinal não é.

6. A maior parte dos críticos parece acreditar que não há tolerância sem relativismo. Errado. É exactamente ao contrário. Só pode haver tolerância se existirem princípios comuns perenes que não podem ser postos em causa por mero capricho. Não pode haver tolerância numa sociedade onde a própria tolerância é considerada um valor relativo. Uma sociedade em que cada um tolera aquilo que lhe apetece e em que cada um define tolerância como lhe apetece é uma sociedade intolerante.