25.4.05
SUGESTÕES DE LEITURA II
Excertos de uma entrevista feita pela VISÃO ao Sr. General Vasco Gonçalves, que nos fez o favor de ser Primeiro-Ministro de Portugal entre Julho de 1974 e Setembro de 1975. Se hoje fala assim, imaginem como falaria há trinta e um anos atrás o homem que, como muitos outros, queria «partir os dentes à reacção».
VASCO, O DEMOCRATA
Visão - Mas o primeiro objectivo do 25 de Abril era a liberdade, a democracia política.
Vasco Gonçalves - Pois, mas ao longo do processo fui verificando que a liberdade, para ser de facto exercida, precisava de base de apoio política, social, económica, cultural, ambiental. Era necessário haver um substrato material para o povo exercer os direitos conquistados. Empenhado nessa luta, eu pensava que o meu dever era dizer que as massas populares estavam a ser enganadas, nomeadamente após os resultados da eleição para a Constituinte. (...) Mesmo antes das eleições, aliás, tinha a noção de que o nosso povo não estava preparado politicamente para não ser confundido (como viria a ser), com receio de pela via eleitoral se perderem as conquistas alcançadas pela via revolucioária.
VASCO, O TABELADOR DAS NACIONALIZAÇÕES
V. - E naõ tinha essa intenção? (de nacionalizar a pequena propriedade)
V.G. - Não. De resto, nunca houve nacionalizações nessas áreas, só por tabela - sobretudo, de empresas ou propriedades que pertenciam aos bancos e às seguradoras. No fundo, esses sectores ditos socialistas ou sociais-democratas não desejavam transformações profubdas.
VASCO, O REFORMADOR
V. - Se voltasse atrás, faria o mesmo ou agiria de forma diferente?
V.G. - (Pensa longamente) É óbvio que houve erros e facetas operativas particulares inadequadas. Mas, em geral, o processo de nacionalizações e desmantelqmento dos grandes grupos económicos foi correcto.
VASCO, O FINANCEIRO
V. - Não vale a pena voltar ao «mas qual?», pergunto-lhe o que dessa época recorda com mais intensidade?
V.G. - A grande coragem dos militares, ao defenderem a economia nacional do colapso;
V. - Refiro-me a acontecimentos concretos por si vividos.
V.G. - (Volta a pensar) O dia das nacionalizações da banca e dos seguros.
V. - Mas não há episódios, factos, que mais o tenham tocado?
V.G. - Esse foi o período mais alegre da minha vida, em que andei mais satisfeito.
VASCO, O LEGITIMADOR
V.- Embora houvesse vários centros de poder e o Governo acabasse por não ser o mais importante.
V.G. - Havia o Presidente da República, a Comissão Coordenadora do MFA, o COPCON, a partir do 11 de Março o Conselho da Revolução.
VASCO, O LEGISLADOR
V. - Ainda hoje fala muito na luta de classes. Acha que o marxismo/leninismo mantém a actualidade?
V.G. - Acho. E um bom exemplo disso é o actual conflito acerca do novo Código de Trabalho.
VASCO «NOSTRADAMUS» GONÇALVES
V. - Ainda tem esperança num «mundo melhor»?
V.G. - Neste momento, é muito difícil prever o futuro e não se pode afirmar categoricamente qual será o rumo do mundo.
(Os títulos a bold são nossos)