O meu contributo para o balanço de 2005.
1. O moralismo. O moralista acredita que tudo o que basta para participar num debate público é a propalação da sua própria superioridade moral e a denúncia da imoralidade dos seus opositores. O moralista tem razão por definição pois a moral está obviamente do seu lado, e por isso não precisa de produzir qualquer argumento válido. O moralista só tem que ser aquele que grita mais alto e aquele que se finge mais indignado. Como não podia deixar de ser, o moralista também tem os seus telhados de vidro, pelo que soa sempre a falso. Está sempre a indignar-se por situações muito semelhantes aquelas em que já esteve.
2. As capelinhas. O membro da capelinha não tem nenhum respeito pela verdade ou pelo rigor intelectual. A opinião oscila ao sabor dos interesses e conveniências da capelinha, das solidariedades pessoais e da necessidade de apoiar um amigo. O membro da capelinha diz hoje o contrário do que disse há 6 meses só porque entretanto os interesses da capelinha mudaram.
Uma capelinha de sucesso possui normalmente uma composição heterogénea de políticos, jornalistas e pessoas da cultura que se vão protegendo uns aos outros. O membro da capelinha usa todos os trques do catálogo para defender a capelinha, mas aquele que mais aprecia é o falso moralismo.
3. O senso comum. A crença na ideia de que a análise de factos complexos não requer ideias contra-intuitivas. Esse mal é particularmente notório no debate político sobre economia em que o senso comum falha redondamente. Mas também se aplica à filosofia política, área em que a personificação de entidades colectivas é, apesar de apelativa para o senso comum, a grande fonte de todos os erros.
4. A análise intimista. O intimista acredita que o mundo está interessado nos seus ódios pessoais e não se coíbe de os expressar sistematicamente. Mas como esses ódios são isso mesmo, pessoais, não requerem qualquer justificação. O intimista não discute sistemas políticos ou ideias de um ponto de vista abstracto. Nunca recorre ao ponto de vista do interesse público, porque ao intimista o único ponto de vista que interessa é o seu ponto de vista pessoal e subjectivo. O intimista fala do que gosta e não gosta. Da sua relação com o mundo. Diz que não gosta do Mourinho, ou do Cavaco ou da Filomena Mónica, sem nunca perceber que a vida pública não é uma relação amorosa. À proibição do tabaco, o intimista responde: acho muito bem, eu não gosto de tabaco. Ou então: acho muito mal, eu gosto de tabaco. O intimista não precisa de fazer nenhuma análise sobre os direitos individuais ou sobre o papel do estado, porque para ele o que lhe interessa é a sua relação com o tabaco.
5. O relativismo. O relativista acredita que não existe verdade absoluta. O que torna qualquer discussão pública inútil. Para o relativista não existe uma realidade externa à discussão que possa arbitrar a discussão. É tudo uma questão de vontade individual. A discussão é apenas uma oportunidade para cada um expressar os seus pontos de vista e nunca um processo de aproximação à verdade.