15.2.06
Cartoons, Liberdade de Expressão e boa educação
Parece que estes são os cartoons que foram considerados os mais ofensivos. Supostamente, o muçulmanos moderados terão ficado chocados com a associação da sua religião à violência e ao terrorismo. Pode ser. Mas essa não é razão suficiente para não serem publicados, quer do ponto de vista legal, quer do ponto de vista da mera boa educação.
A Liberdade de Expressão serve precisamente para permitir que, numa discussão pública, as pessoas estejam sujeitas a ouvir opiniões e posições opostas às suas. Só assim é que pode haver verdadeiro debate. Ora, para um crente, uma opinião que contrarie as suas crenças é certamente chocante. Mas isso não pode nunca ser evitado. Quem lê jornais, vê televisão ou quem participa em debates arrisca-se a ouvir ou a ver coisas que contrariam as suas convicções mais íntimas. E depois? A função da televisão e dos jornais não é precisamente a de veicular ideias que as pessoas não conhecem, muitas das quais potencialmente chocantes para alguém?
A apresentação da tese de que o islão é intrinsecamente violento é perfeitamente legítima. É até uma questão política muito pertinente que deve ser levantada e que terá que ser enfrentada mais tarde ou mais cedo no próprio mundo muçulmano. Quem quiser concordar concorda, quem não quiser concordar que apresente os seus argumento. Caso alguém se sinta demasiado chocado com o que viu ou leu pode sempre mudar de jornal. O debate numa sociedade aberta só é possível se as ideias tiverem uma oportunidade de divulgação. Se depois se revelar que as ideias não têm fundamento elas acabarão por morrer por si. Curiosamente, quem se sentiu chocado com as caricaturas dinamarquesas nem sequer se deu ao trabaho de refutar a ideia de que o islão é intrinsecamente violento. Muitos acabaram mesmo por contribuir para a confirmação dessa tese através do seu próprio exemplo de violência.
Mas o mais interessante nesta polémica é que a publicação das caricaturas nem sequer pode ser considerada um caso de falta de educação. Estas caricaturas são perfeitamente banais enquanto caricaturas. Um leitor minimamente atento aos códigos habitualmente usados nas caricaturas dos jornais ocidentais perceberá facilmente que as caricaturas são sempre um exagero com fundo de verdade. Quem diz a verdade brincando e exagerando dificilmente poderá ser considerado mal educado, a não ser que exista má fé à partida. Mas quem esteve de boa fé percebeu que os caricaturistas não estão a dizer que todos os mil milhões de muçulmanos são terroristas, mas que existe no mundo muçulmano uma pouco saudável promiscuidade entre terrorismo e religião. Se os muçulmanos moderados não gostam dessa promiscuidade, fazem mal em atacar o caricaturista, que não passa de um mero mensageiro. O melhor que têm a fazer é demarcarem-se dos terroristas.