A opção por uma religião é uma opção por um conjunto de crenças e de regras morais. Estas crenças e regras morais podem estar certas ou erradas, pouco importa, desde que exista total liberdade de expressão. Mas se não existir, os crentes terão muita dificuldade em descobrir que cometeram um erro quando optaram por uma religião. Há vários erros possíveis, por exemplo:
- as crenças são inconsistentes ou implausíveis
- as regras morais depois de bem analisadas revelam-se imorais
- a religião baseia-se numa mentira
- o crente anda a enganar-se a si próprio e na verdade não acredita no que acredita
Ao aceitar-se a liberdade religiosa aceita-se que cada um será capaz de fazer o melhor julgamento possível das várias religiões. Mas esse julgamento só pode ser feito se as religiões não estiverem acima da crítica mais feroz. É a crítica que põe à prova as crenças inconsistentes e mal fundamentadas.
Por seu lado, as religiões desenvolveram ao longo dos tempos mecanismos de defesa contra a crítica racional como a condenação da Blasfémia. Mas como os preceitos de uma religião são Blasfémia para as outras, a condenação da Blasfémia é, na prática uma condenação da liberdade religiosa. O direito à Blasfémia e a liberdade religiosa são a mesma coisa.
A maior parte das religiões considera Blasfémia tudo aquilo que possa colocar em causa as suas crenças, o que só por si revela alguma insegurana. Se as crenças fossem sólidas e fundamentadas resistiriam facilmente às tentativas de sátira e de redicularização. O problema é que os crentes não estão tão seguros quanto isso das suas crenças e temem o confronto com a sátira. Parece que temem que Deus e os seus santos e profetas percam a sua posição divina se forem tratados como gente comum, com desejos e paixões. Mas se assim for, o problema não será tanto da sátira mas da falta de fundamento da religião que os crentes professam.