Vasco Pulido Valente diz que o liberalismo é belo, mas não há liberal praticante que seja eleito. Mas não me parece que os liberais digam o contrário. Nem se pode pensar que os liberais tenham o objectivo de se fazerem eleger. Os não liberais é que gostam de atribuir aos liberais da blogosfera projectos políticos que eles nunca declararam ter. Como sugere o Helder, tal visão do liberalismo resulta da grelha ideológica social-democrata que não concebe o pensamento político sem que este se proponha à conquista do poder.
É verdade. Nenhum liberal praticante será eleito, e mesmo que, por milagre venha a ser eleito, no dia seguinte deixa, por força das circunstâncias, de ser liberal praticante e passa a ser um estatista praticante. Esta conclusão decorre naturalmente das ideias liberais. As sociedades são o resultado da acção humana. A acção humana não pode ser centralmente controlada, é um fenómeno descentralizado, pelo que a engenharia social é um projecto impossível. É por isso que as interveções do estado na economia e nas relações sociais não funcionam. Mas é também por isso que, numa democracia, em que o poder do voto está disperso, a política não pode ser manipulada por um pequeno ou grande grupo de liberais, ou por um pequeno ou grande grupo do que quer que seja. Numa democracia, os resultados eleitorais não são determinados pelo voluntarismo dos políticos, mas pela luta de grupos de interesses pelo poder. Existe um mercado político que é relativamente eficiente e não manipulável.
As refomas liberais que se vierem a fazer resultarão dos factos políticos e sociais. Resultarão da competição entre os diversos agentes políticos e sociais, da evolução da tecnologia e da pressão provocada pela concorrência externa. É por isso que as reformas liberais tanto poderão ser feitas por um político de direita inspirado pelas ideias liberais, como por um político socialista que, sob pressão, sente a necessidade de salvar o estado social.
O papel que os liberais possam ter num processo reformista é marginal. Os liberais não podem ter a ilusão de que conseguirão bater o mercado político. Nem podem ter a ilusão que as ideias determinam os factos sociais. É ao contrário. As ideias bem sucedidas são aquelas que melhor estão adaptadas aos factos sociais e que por isso têm maior probabilidade de se propagar.