7.10.06

A equidade deste regime

Há um ano e pouco Paulo Morais disse publicamente que a actuação dos autarcas estava sujeita a esquemas de corrupção, designadamente em matéria de urbanismo e ambiente. Depois até fez um livro/entrevista sobre o assunto.
Caiu-lhe quase tudo em cima - «e as provas?», diziam; «onde estão os casos concretos?», bradavam; «não se pode acusar em abstracto, diga os nomes dos prevaricadores e os números dos processos!», exigiam.
Esta semana o presidente da república garantiu aquilo que Paulo Morais já tinha afirmado. Só que Cavaco Silva generalizou muito mais. Arredondou. Sugeriu, insinuou e nunca materializou situações, pessoas ou casos. Mas os mesmos que antes rasgaram as vestes e verteram sisudas cinzas em cima da cabeça em protesto contra o sacrilégio das «acusações abstractas», agora aplaudem ritmadamente o discurso etéreo do presidente da república. Já não exigem casos concretos. Não demandam informações definidas e palpáveis.
Nada disso. O regime tece encómios e panegíricos como se quem foi primeiro-ministro durante 10 anos e observador privilegiado noutros 10 não tivesse a obrigação cívica e constitucional de fazer mais e melhor. A concretização fica a cargo do cidadão comum... ###

A propósito das revelações de Paulo Morais, recordo as declarações de FERNANDO RUAS, líder da ANMP, à TSF, em Agosto de 2005:
- «Eu sinto-me mal. Enquanto presidente da ANMP e autarca, não recebo nenhuma lição de quem quer que seja (...) Se, desta forma tão frontal, que eu admiro, se tem estes elementos, venha com eles. Tem um caminho próprio, a Inspecção de Finanças, a Inspecção Geral do Território, a PJ...força, doutor Paulo Morais! Mas não assim (...) Isto, para mim, é completamente estranho».