10.10.06

A primeira lição de uma saída

Enredado em entrevistas pungentes, editoriais de serviço a fabricar historietas de desesperadas "urdiduras" ocultas, regressa finalmente ao seu anonimato natural uma das figuras mais desgraçadas da história da Justiça portuguesa. Sai igual ao que mostrou (nas suas próprias palavras, um "distraído"), sem sombra de honra na despedida. Deixa o legado da menor respeitabilidade de sempre para o sistema judicial. O único mérito deste mandato, indirecto e não querido, traduz-se na percepção bastante generalizada de que o actual modelo não serve.
Mas há uma primeira e triste lição que o actual regime nos deu - ao não demitir Souto Moura, ao permitir que este enorme erro pessoal e institucional permanecesse em funções até ao fim, o regime passou a mensagem de que a incompetência no exercício de altos cargos públicos compensa, ainda que aquela seja evidente e confessada. Que mesmo a figura mais notoriamente deslocada das características mínimas exigidas para desempenhar uma função dirigente pode aspirar a "ficar lá" até ao fim do prazo formal.
Claro que Souto Moura devia ter sido demitido, em tempo. As desculpas usadas que invocam os "processos em curso" não passam disso mesmo. Demitir Souto Moura era um imperativo funcional e ético. Seria um sinal de que nem todos servem para tudo. Que o Estado faz ainda alguma seriação de qualidade para o desempenho de altos cargos públicos.
Mas, pelos vistos, a inépcia não é ainda uma condição resolutiva na lógica deste regime. Parece que até pelo contrário - a avaliar por alguns elogios fúnebres, sempre excessivamente benévolos para o defunto.