13.10.06

A Taxa de Juro do Microcrédito

Ao contrário do que foi dito nos noticiários que anunciaram a entrega do Prémio Nobel da Paz, os bancos que praticam o micro-crédito cobram juros. Juros bastante altos, que variam entre 50% e 100% ao ano, em alguns casos acompanhados por comissões baixas em valor absoluto mas altas em percentagem dos empréstimos. Sem juros, os bancos não seriam viáveis. O que é diferente é que estes dinheiros são aplicados em activos cuja rentabilidade é elevada. Por exemplo, a compra duma máquina de costura pode ser financiada por micro-crédito. A máquina é essencial para começar a ganhar dinheiro, mas o principal elo da cadeia de valor é o esforço disponibilizado por quem a comprou. Neste tipo de economia, os investimentos recuperam-se rapidamente à custa de horas de trabalho.

O Banco que recebeu metade do Prémio Nobel, o Grameen Bank, sempre praticou taxas mais baixas, da ordem dos 20%-25% ao ano. Embora as taxas aparentem ser ainda muito altas aos nossos olhos ocidentais, causaram enormes prejuízos ao banco que, por essa razão, tem sido fortemente subsidiado, ao longo dos anos.

Os casos de micro-crédito a juro 0% são habitualmente financiados por instituições multi-laterais, como o Banco Mundial, e representam apenas uma parte do fenómeno, limitada a países com um PIBpc inferior a cerca de 1000 USD. Mais de metade destas bonificações de juros é dirigida para África.

Este é um daqueles casos em que o subsídio indirecto, via banco, tem enormes vantagens. O banco cria uma obrigação perante quem recorre ao crédito, promovendo hábitos de trabalho e o conceito de responsabilidade. Ensina que não há almoços grátis. O subsídio directo, habitualmente, a par de um alívio temporário, cria hábitos de consumo e subsidio-dependencia.