8.2.07

Caro Pedro Arroja,

Sem querer polemizar (ainda mais) consigo:
- Se o argumento da liberdade da mulher tem «tornado a extrema-esquerda a líder e a campeã do valor da liberdade», a culpa desse triste facto não pode ser assacada senão aos liberais portugueses. Se estes, em vez de se colocarem ardentemente ao lado das posições mais civilizacionalmente regressivas, tivessem defendido a liberdade e dignidade da mulher como razão indspensável para um mundo equilbrado, justo e liberal, talvez esse realce que condena não tivesse acontecido.
Mas quando vejo os ditos liberais portugueses a apelar, cada vez menos indirectamente, ao voto em Oliveira Salazar num concurso televisivo,
outros a jurar que a instituição mais absolutista da nossa contemporaneidade é o melhor exemplo possível de liberalismo aplicado, quando leio textos dos ditos liberais portugueses em que se defende a repressão penal para impor à mulheres, de fora para dentro, condutas moralizantes em que estas não se revêem e valores que já eram caducos quando o referido Oliveira Salazar ainda estava sentado firmemente na sua cadeira, então, tristemente, só posso concluir que os ditos liberais portugueses, salvaguardando honrosas mas raras excepções, são hoje aquilo que sempre foram: uns pobres e irremediáveis salazarentos!


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«A primeira liberdade reclamada pelos primeiros cristãos - nos três séculos que precederam Constantino em Roma - foi a liberdade de consciência religiosa, a liberdade para adorarem o seu Deus e poderem cumprir as suas obrigações para com Ele».
- Talvez seja verdade. Mas mal conseguiram essa liberdade e se apossaram do Estado romano, os filhos desses cristãos, imediatamente, negaram qualquer esboço dessa liberdade religiosa a todos os demais cultos, perseguindo-os, destruindo os seus templos, quebrando as mais antigas e sagradas tradições da antiguidade (vg. os jogos olímpicos entre tantas outras) e dizimando religiões que tinham bastante mais adeptos do aquela que Constantino preferiu.
Por isso, a nossa liberdade, a liberdade dos modernos, não decorre daqueles que primeiro a reclamaram e logo a negaram a todos os outros - mas sim dos que, na Inglaterra e na Holanda, a cultivaram e a transformaram num corpo coerente susceptível de ser aplicada e transportada para outras dimensões culturais. Até mesmo para aquelas que tudo fizeram para que esta não vingasse.