22.4.07

o militante

O estranho conceito político de «militante» parece estar de regresso à gíria partidária, onde fez percurso no pós-25 de Abril. A ideia é, ou melhor, foi, mais ou menos esta: pessoas abnegadas, movidas pelo idealismo, desejosas de contribuírem para o desenvolvimento da cidade e para o bem-estar dos seus concidadãos, dedicam, desinteressadamente, parte substancial sua vida à vida dos partidos políticos, as estruturas democráticas que salutarmente lutam pelo poder. A origem do conceito encontra-se nas ideologias totalitárias, no comunismo e no fascismo, onde os «militantes» operaram maravilhas e prodígios nas suas várias materializações históricas.
A evolução de tanta generosidade e abnegação conduziu, em Portugal e na generalidade das democracias ocidentais, a uma vida democrática pouco mais do que formal, baseada em dois ou três partidos que se alternam ciclicamente no poder, dirigidos por férreas estruturas de apparatchiks controleiros que dominam toda a vida interna do partido, cacicam as listas de filiados, controlam as eleições dos seus órgãos, a composição das listas de deputados e candidatos aos órgãos do Estado, as nomeações para os cargos públicos, etc.
Só por fina ironia se pode imaginar, nos dias de hoje, a vida interna dos partidos entregue aos velhos «militantes» do imaginário romântico da revolução. Nem aos «militantes», nem aos «quadros», outra ideia engraçada dessa época, muito querida a alguns dos nossos partidos. A caciques, talvez seja mais rigoroso.