27.4.07

O prolongamento de um acto teatral

«Os 15 membros do grupo que ocupou o Teatro Rivoli, Porto, durante três dias em Outubro último foram acusados pelo Ministério Público de entrada em local vedado ao público, disse hoje à Lusa o director do Teatro Plástico, Francisco Alves.
«Sempre pensei que a queixa fosse arquivada, até porque a ocupação foi apenas o prolongamento de um acto teatral», acrescentou Francisco Alves, um dos líderes do grupo de pessoas que ocuparam aquele espaço em protesto contra a atribuição a Filipe La Féria da exploração do Rivoli - Teatro Municipal durante quatro anos.
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http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=802023&div_id=291

Absolutamente de acordo. Sempre me pareceu que a 'ocupação do Rivoli' foi precisamente 'o prolongamento de um acto teatral'. Aliás o único em que os ditos actores conseguiram algum público. Por mim desde que o Teatro Plástico ou lá o que seja não nos obrigue a ouvir a poesia que fazem nessas performances das ocupações está tudo bem. Para os mais esquecidos aqui deixo mais uma vez o texto que produziram quando se fecharam dentro do Rivoli. Imaginem só o que eles farão quando estiverem no tribunal
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Amigo OCUPANTE de fora/
Tu que sorris tão-só e passas, desaparecendo noutra multidão/
Tu que ficaste a casa a tomar conta das horas que passam /
Tu que te quedas a falar como se o mundo parasse à nossa porta/
Tu que trazes a família a passear e todos aproveitam para um banho de luta/
Tu que passas maçãs pelas grades e de paraíso nos alimentas /
Tu que ainda não nos percebeste mas queres a todo o custo perceber/
Tu que bebeste à nossa saúde e assim nos embriagaste à distância/
Tu que tinhas a barriga maior que os olhos e a ofereceste para nos carregar /
Tu a quem o trabalho humilha e nos deste tuas poucas horas de ócio/
Tu que trouxeste a bandeira no bolso e a trocaste por duas horas de troca/
Tu que nem tanto ao mar nem tanto à terra e agora somente tempestade /
Tu que vento semeias e vento colhes para que o ar se respire/
Tu que saíste aperaltada e voltaste desfeita como que acabada de nascer/
Tu que vieste ao engano e voltaste mais verdadeiro/
Tu que trouxeste as tuas sobras de esperança e eram um banquete /
Tu que quiseste a noite branca e de manhã choravas por mais/
Tu que em vale de lençóis nos concedeste vidas nunca vividas/
Tu e tu e tu e tu e tu e tu e tu e tu e tu e tu e tu e tu/
Ocupa a rua como nós ocupámos este nosso teatro /
Pinta a manta e a macaca pinta a negro pinta o sete pinta-te a ti e aos outros/
Canta para o mal espantar para acordar animar embalar protestar discordar/
Toca o sino e a trompete toca tambor clarinete toca a caixa e troca o mundo /
Dança a roda dança a salsa dança o tango dança a valsa baila gira salta pula/
Faz figas e faz de conta faz a sério ou a brincar faz mais para o mundo mudar/
Troca tintas troca passos troca cartas troca abraços troca cromos e heróis /
E, pelo meio, vem até trocar umas ideias, impressões, sensações connosco/
Até já, até sempre

O Grupo de Ocupantes do Rivoli Teatro Municipal