3.7.04

DISCORDO, RUI...

Rui,
Discordo da tua posta. Dos pressupostos e das conclusões. Repugna-me, nomeadamente, a ideia de que a dissolução do Parlamento ou a não aceitação de Santana será "Para além de uma intolerável ingerência na vida interna do, por enquanto, maior partido político do país, será uma inadmissível atitude pessoal, imprópria de um tão alto titular de um cargo político como a Presidência da República".

Não é verdade. O partido do poder, os seus affairs internos, não podem decidir a vida do país a seu bel-prazer. Exclusivamente.

O voto num partido não é um cheque em branco para 4 anos. Não se pode entrar na onda que "fomos eleitos e podemos fazer o que nos der na real gana. E podemos colocar lá quem quisermos - o povo que se lixe"!...

Também me parece uma ilusão indigna da tua habitual argúcia, assentar que as pessoas, o factor pessoal, não contam. Claro que contam! Na política, nos negócios e em tudo aquilo que a vida é. Nomeadamente no partido do poder.

O PSD não tem ideologia (esse é o segredo do seu sucesso) - resta-lhe o toque pessoal de quem o lidera num dado momento. O PSD de Durão Barroso não é o de Fernando Nogueira; e não será o de Santana. Nenhum PSD se compara ao de Cavaco Silva - Cavaco era Cavaco, para o bem e para o mal. Aquilo que aconteceu enquanto governou foi graças à sua vontade, como se demonstrou quando saiu e todos pudemos ver a mediocridade patente da maioria dos seus ex-ministros e a desgraça que foi este Governo, tão mauzinho.

Um Governo PSL/PP é uma coisa radicalmente nova, para muitos aterradora. As condições mudaram. Quem foi eleito fugiu. As políticas mudaram. O sentido do país também.

Sejamos claros: houve um projecto de Governo que esteve a ser posto em prática durante 2 anos e meio, que FALHOU! O Governo da coligação não teve sucesso em praticamente nenhum dos seus propósitos. Essa é a explicação para a felicidade orgásmica que extravasa de Durão Barroso - é a alegria da fuga do poço onde mal se via o fundo, de que ele saiu e onde nos deixou a todos.

Os santanistas asseguram a quem os quer ouvir que "agora, vão fazer tudo ao contrário". Claro, não têm outro remédio! Mas as coisas não podem ser feitas assim. Esta mudança não é o efeito de uma mera relação de suplência - é o país que está em causa. E como as condições são totalmente novas, o país deve poder pronunciar-se. O que, aliás, aconteceria com qualquer outro Presidente da República.

Mas isso, os homens da golpada também já sabiam quem tinham ali. Senão tinham ficado quietinhos...