9.7.04

Fukuyama

Motivado por este comentário de Miguel Noronha ao artigo "Bring back the state" de Francis Fukuyama, escrevi aqui que as posições do autor (Fukuyama) me parecem dever ser classificadas, na maior parte dos casos, como próprias de um social-democrata, e não apenas devido a este seu último texto.

Entretanto, li dois posts interessantes sobre o assunto (no Pura Economia e n'O Observador) e permito-me fazer alguns comentários adicionais.

Em primeiro lugar, já há algum tempo que Fukuyama vem advogando o fim do liberalismo (veja-se, por exemplo, o seu artigo de 2002 "The Fall of the Libertarians" no WSJ) pelo que o artigo que motivou a discussão não apresenta, do meu ponto de vista, nenhuma novidade relevante quanto ao pensamento do autor.

Em segundo lugar, para além de crítico do liberalismo, Fukuyama tem assumido de forma consistente a defesa de posições intervencionistas em matérias de política interna e externa facto que, aliás, é totalmente coerente com a sua crítica do liberalismo e do conservadorismo americano tradicional.

Em terceiro lugar, Fukuyama já tem uma tradição de prever, sem grande sustentatação nem sucesso empírico, o fim de ideologias (veja-se, por exemplo, a propósito das previsões de Fukuyama relativas ao socialismo, o artigo de Lew Rockwell The Future of Socialism).

Por último, não me parece que se possa sequer afirmar que as posições de Fukuyama e as reservas que manifesta relativamente ao liberalismo sejam derivadas de uma orientação conservadora. Como escreve Daniel McCarthy, num artigo em que compara as posições de Fukuyama e de Taki relativamente à 1ª Guerra Mundial, "If there's a substantial difference (rather than one of degree) between neoconservatives and social democrats, I can't tell you what it is."

Embora naturalmente reconhecendo alguns importantes contributos teóricos de Fukuyama (nomeadamente o seu trabalho sobre capital social e sociedade civil) e tendo também sempre presente que, na generalidade das matérias, as suas posições políticas são bastante mais liberais do que os padrões de opinião que infelizmente vão prevalecendo entre nós, não me parece muito apropriado considerá-lo um liberal.

Leituras recomendadas:

"The Fall of the Libertarians" - Francis Fukuyama

Nation-Building 101 - Francis Fukuyama

Libertarian Thought at the Dawn of the Third Millennium: A Reply to Fukuyama - David Dieteman

Were the Founders Libertarian? - Tibor Machan

Fukuyama and Libertarianism - Stephan Kinsella