(De uma leitora assídua do Blasfémias, aqui fica o relato que recebemos:)
"Ontem, fui á urgência pediátrica do Hospital S. João - o tal onde se pretende fazer o centro «materno - infantil».
Estavam seguramente duas dezenas de familiares á porta, o que para mim, felizmente, acabou por ser irrelevante: a minha irmã é médica e habituei-me a passar á frente, usando uma espécie de privilégio, sem qualquer laivo de pesar na consciência.
Fui bem atendida na (pré) triagem, o que também é natural quando acompanhada por um familiar ou amigo que é médico....como era o caso, com a minha irmã que é médica! Existindo a suspeita de uma otite, houve necessidade de levar a bébé á urgência de ortorrinolaringologia, para ser examinada por um especialista. Empreendi essa cruzada, com a bébé ao colo (e já sem a minha irmã que é médica!), entre corredores intermináveis, mal iluminados, mal cheirosos e mal limpos, até que finalmente vislumbrei a tabuleta vermelha da urgência de ortorrino. Esperei pela minha vez como todos aqueles cujas irmãs não são médicas.
Fui atendida passados 35 minutos por alguém que gritou "a bébé". Por exclusão das pessoas presentes, calculei que fosse a minha e como tal avancei. Não me cumprimentaram, nem eu ali ía para ver manifestações de simapatia; mandaram-me sentar com a bébé ao colo. O exame foi rápido não durou mais que 3 minutos, aproveitei a ocasião, a presença do especialista que nem sequer olhou para mim, para colocar uma única questão, que pensava eu ser pertinente: o uso de um aspirador nasal poderia de influir no desenvolver das otites?... " Minha senhora, do passado e do futuro não tenho que saber, só sei do presente e ela agora não tem nada" - respondeu o especialista! Rabiscou um frase ilegivel no processo da bébé, e empreendi a minha cruzada de volta para onde a minha irmã é médica, consciente de que estes são os hospitais que temos, onde laboram nas urgências os médicos que temos, para a minha bébé, que é a unica que tenho!
Pergunto agora: empreendi esta cruzada, depois de me ter certificado que, sábado á noite, em toda a cidade do Porto e para além da urgência de pediatria em causa, só mais uma privada é que estava a funcionar...entre as 22 h e as 24h. Será que não há condições de mercado para que mais serviços médicos deste tipo funcionem numa área metropolitana que terá, mais coisa, menos coisa, cerca de 1,6 milhões de habitantes? Será que não haverá procura que o justifique? ...Pelo que vi, não me pareceu ser este o caso. Mas... Ou será que, por outro lado, os pressupostos de um mercado concorrencial é que não se verificam: falta de pediatras?, falta de poder de compra para pagar pediatras privados?, falta de hábito?, falta de bébés?"
Graça Faria.
Porto