JPP continua hoje, no Público, a sua busca pela destrinça actual entre "Esquerda/Direita".
A dado passo formula uma série de questões, entre as quais esta: «Kafka percebeu o mundo concentracionário e burocrático muito antes de ninguém, mas o "Processo" é de direita ou de esquerda, é uma procura de ordem ou desordem?»
Julgo que a resposta se prende com aquilo que no Blasfémias temos vindo a insistir (ver, por todos, o Gabriel aqui) - o tal «mundo concentracionário e burocrático» que Kafka percebeu pertence ao universo dos estatistas, i. é aos que crêem que a actuação do Estado é condição normal, necessária e indispensável para a resolução de qualquer problema colectivo (ou mesmo individual).
Ou seja, a esquerda e a direita são realidades horripilantemente miméticas quando se perspectivam a partir do seu fundamento essencial que é o Estado (esta questão sofre um agravamento sensível entre nós) - o problema é encontrar as diferenças, vagamente descortináveis nas distintas mitologias e superstições da devoção dos estatistas de todas as cores.