21.4.05

AS HUMILHAÇÕES DE SANTANA



Nestas últimas horas o dr. Santana Lopes terá deglutido a sua última grande humilhação política, depois de uma série consecutiva delas, ocorridas num breve mas intenso período de tempo. Na verdade, depois de ser «despedido» pelo sempre atento Chefe de Estado, em termos e com modos que lembram os relatos das desgraças das antigas criadas de servir, o dr. Santana viu o partido que o adulava virar-lhe violentamente as costas. Neste último capítulo, o comportamento do dr. Marques Mendes foi exemplar: despedido na praça pública o antigo Primeiro-Ministro, o novo líder de transição aprontou-se de imediato a correr para os braços do subalterno camarário de Santana, a fim de lhe garantir o lugar do chefe deposto, sem respeitar um tempo mínimo de nojo que, mesmo nos funerais políticos, o decoro mandaria observar.
É evidente que em toda esta sucessão de desaires políticos pessoais, o dr. Santana terá responsabilidades indeclináveis: a maneira como deixou que o governo lhe fosse parar às mãos, algumas companhias que escolheu para o exercício de funções de importância, certas intervenções públicas manifestamente desastradas, entre outras questões menores. Mas tudo isso, em tão pouco tempo, não poderá justificar a derrocada vertiginosa de uma lenta, sedimentada e ascendente carreira política. Desde os tempos de Sá Carneiro onde, muito novo, já se fazia notar, aos de Balsemão em que protagonizou o fim do Bloco Central e o advento do cavaquismo, ao ciclo de Cavaco em que foi secretário de Estado, cabeça de lista ao Parlamento Europeu e seu putativo sucessor, à eleição para presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz e, por último, a conquista exclusivamente pessoal da Câmara Municipal de Lisboa, contra a coligação PS/PCP e uma lista de Paulo Portas que obteve 7,5% dos votos. Nesta evolução, de duas três: ou andámos todos (ou quase) enganados, nomeadamente os seus eleitores e apoiantes, ou não se poderá assacar exclusivamente ao dr.Santana a responsabilidade da sua derrocada polílica nos seis meses que o seu governo levou.
Por outras palavras: ao contrário do que possa pensar o país e, em especial, o PSD, o fim patético da carreira política de Santana envergonha-o a ele, é certo, mas é, essencialmente, um atestado de menoridade passado ao seu partido e aos muitos que, ao longo de décadas, o apoiaram. Isto é, a grande parte do país.