21.4.05

CHOQUE E ESPANTO

Num país a braços com uma grave crise económica, com níveis de desemprego elevadíssimos e que não param de crescer, em que as empresas sobrevivem, as que sobrevivem, com dificuldades imensas, onde a população activa depende, em larguíssima percentagem, da função pública, o mesmo é dizer, do Estado e indirectamente da economia privada, onde a burocracia e o peso (e os custos) do sector público esmagam a liberdade e a capacidade empresarial, um governo propor, em início de mandato, um «cheque tecnológico» como a medida que revolucionará o país, é, pelo menos, insólito e pouco credível.
Embora não se tenha ainda percebido com clareza em que consistirá essa opção estratégica, a verdade é que ela não poderá deixar de enfrentar o país e a sociedade onde é suposto vir a aplicar-se. E estes encontram-se em estado tal de subdesenvolvimento e atraso, que a medida arrisca-se a ser um passo maior que a perna, e a não passar de meia-dúzia de iniciativas de fachada, uns tantos apoios a «projectos empresariais» que de privado pouco terão, sem ter efectivas consequências estruturais profundas.
Mais do que medidas avulsas com forte recorte mediático, o que Portugal necessita é de uma definição estratégica global, que clarifique o seu papel no mundo, no imenso mercado comunitário e que redefina a relação entre o Estado (poder central e poderes locais) e os cidadãos. Este deveria ser o verdadeiro pacto de regime, com início nos poderes públicos, para libertar uma sociedade civil que, de há muito, condicionam e escravizam.