18.4.05

A CLASSE DOS ANTÓNIOS



O dr. Sílvio Cervan, de regresso à política, surge como um dos mais entusiáticos apoiantes da candidatura do dr. Ribeiro e Castro à liderança do CDS.
Instado a comentar, hoje, no «Público», o melindroso processo sucessório de Paulo Portas, Cervan afirma que chegou ao seu candidato por exclusão de partes. Telmo Correia, diz, «era uma belíssima solução, mas como não avança não podemos contar com ele», e António Lobo Xavier, o seu ídolo político da juventude, só lhe dá desgostos, comparando-o mesmo, na hesitação, a António Vitorino. Segundo Cervan, o dr. Xavier «põe toda a gente a berrar por ele e depois não está disponível para nada».
Assim, conclui Sílvio, existe na vida política portuguesa uma classe de políticos hesitantes que não passam da condição de eternas promessas adiadas. Curiosamente, chamam-se quase todos Antónios: António Lobo Xavier e António Vitorino, segundo Cervan, mas, acrescentamos nós, também, porque não, António Borges, que hesita em ser o novo Cavaco, ou mesmo António Oliveira Salazar, que adiou durante quarenta anos a promessa de regressar a Stª Comba. Se quisermos internacionalizar o critério, sempre poderemos recordar o saudoso Marco António (o da Cleópatra e não o do PSD), que de hesitação em hesitação acabou a sua promissora carreira em Accio. Ou, se tomarmos a opção de aplicar o critério a outras manifestações do espírito, há que não ser ingrato com António Calvário, promessa infelizmente não cumprida da canção nacional.
Pois é, caro Sílvio, não nos podemos fiar em promessas. Quando menos esperamos, aqueles a quem seguimos voltam-nos as costas. Sobretudo se, como terá ocorrido com Xavier, andarmos atrás deles «aos berros». Mas que grande desconsideração!