Eduardo Prado Coelho (EPC) escreve, de facto, coisas enigmáticas. Hoje no Público brinda-nos mais uma vez com pérolas:
"Talvez o socialismo seja hoje isto mesmo. Por outras palavras, colocar uma fotografia no meio de um processo de produtividade. Ou deixar que o que se perde se não perca e preencha as nossas vidas."
Pérolas, verdadeiras pérolas...
Mas a crónica de EPC não se fica por aqui:
"Na rua, havia gente que deambulava, algumas pessoas vinham do Príncipe Real. Tínhamos algum receio dos que andavam nocturnamente junto às árvores e pareciam assumir dimensões ameaçadoras. De súbito, encontrei o ministro da Economia."
E avança...
"Como é que o vemos numa postura desportiva, descontraída como quem se passeia, com uma camisa e umas calças de quem saiu à rua, se deixou surpreender na primeira esquina?"
Mas há mais...
"Não é costume um ministro da Economia gostar de fotografia, gostar de mostrar fotografia. Não é habitual ter tantos livros. Perguntei-lhe se preferia fotografia à economia. Como misturar coisas tão diferentes? A economia é da ordem do que se acumula: o útil, o instrumental, o capitalizável. A fotografia é outra coisa: o profundamente superficial, o sentido nómada, as coisas que se perdem e não fazem sentido. Que Manuel Pinho consiga jogar nos dois campos deixa-nos surpresos. Parece que Luís Campos e Cunha também colecciona. Ainda bem. Isso quer dizer que há valores que ainda não foram esquecidos."
O que me causa náuseas nesta crónica de EPC não é a tentativa de descrever o Príncipe Real como se fossem os Champs Elisees, nem o conteúdo vazio da sua escrita folclórica que procura provocar nos leitores risinhos e "medo dos homens maus", mas a forma como utiliza a sua tribuna para praticar o lambebotismo que o caracteriza: afinal, os homens do dinheiro do PS são cultos; Manuel de Pinho e Luis Campos e Cunha, não se preocupem, que o facto de se dedicarem ao útil, ao instrumental e ao capitalizável não vos diminui, desde que se atrevam a convidar EPC e outros contadores de fábulas ao vosso humilde lar, e lhes mostrem onde investem os frutos desse vosso espirito prático. Com esse gesto simples, saem do limbo para entrarem na galeria dos cultos, reservada aos intelectuais socialistas.
Apenas recomendo aos que queiram submeter-se ao "teste do algodão" que fechem a porta dos quartos - não vá EPC escrever novamente estar o "quarto de crianças imensamente brincado" - e que usem de uma certa parcimónia quando mostrem as obras de arte - para que não sejam acusados de as exibirem com "manifesto orgulho (...) e (...) com a alegria de uma verdadeira criança".
E já agora, vistam-se decentemente, para que EPC e seu amigos não vos confundam com o "lobo mau".
Rodrigo Adão da Fonseca