13.4.05

MARÉ BAIXA

A pouco mais de uma semana do seu congresso, o CDS continua sem candidato visível à sucessão do líder demissionário. No partido que foi, é e será de Paulo Portas, parece que ninguém encara com especial entusiasmo essa fascinante missão. Pode, contudo, antever-se com alguma facilidade o «carisma» que aí vem, devidamente preparado e ungido pelas «estruturas» locais do partido, que, pela voz do seu mandatário natural, o dr. Nuno Melo, advertiram que não tolerariam um líder que as «hostilizasse». É difícil perceber o que essa advertência significa. Nenhum responsável político no seu bom estado de saúde mental, a precisar de votos e a ter que disputar eleições, «hostilizaria» os seus apoiantes e as estruturas sobre as quais repouse a organização do seu partido. Provavelmente, o que o dr. Melo pretendeu dizer é que, desaparecido o dr. Portas e sem ninguém à altura para o substituir, quem mandará no partido serão as ditas «estruturas», ou seja, traduzido para português, meia dúzia de influentes responsáveis pelo aparelho. Ora, num partido que desde sempre viveu eleitoralmente à custa da imagem do líder e em que as «estruturas» de base são uma pura ficção, vai ser curioso observar os resultados da adição de nada com coisa nenhuma. Isto é, de um líder que não é líder, condicionado por distritais e concelhias que, para além dos estatutos, não têm qualquer existência ou implantação real. Em forma de conclusão, o CDS, em vez de se abrir, prefere fechar-se mais ainda sobre si mesmo.

No PSD, a autofagia continua galopante. De há dez anos para cá, desde a saída de Cavaco, que o partido anda atrás de um novo D. Sebastião. Nesse afã patriótico, dizimou por completo os grupos e os seus respectivos cabecilhas, que se afirmavam como naturais herdeiros do Cavaquismo e que davam alguma espessura política e sociológica ao partido. A coisa terminou neste último congresso, com o electrizante confronto entre dois líderes natos, Marques Mendes e Luís Filipe Menezes. O primeiro, ao vencer, cumpriu de imediato a sua promessa de renovação e de trazer, como ele próprio disse, «gente normal» para lugares de direcção. Assim sendo, nomeou como porta-voz o eterno jovem social-democrata Pedro Passos Coelho. É, na verdade, animador verificar que o futuro do maior partido da direita do regime e, porque não, do próprio regime, assenta sobre a nossa juventude. Como sempre ouvi dizer, «os jovens de hoje são os homens de amanhã». Está visto que sim.