Ontem apanhei um táxi em Lisboa. Fim da tarde. Caos habitual.
Passam cinco minutos, e nada. Sete minutos. Finalmente, a expressão da praxe:
"País de ricos! Portugal é um país de ricos! Tudo de carrinho! E bons carros! E cada um no seu carrinho! Se eu mandasse, ia ver as contas deles e dizia: o senhor ganha 1000 euros; tem um empréstimo à habitação de 800; como é que tem dinheiro para o carrinho? Pois é, é que anda tudo a viver de esquemas; só esquemas! Agora eu é que pago esta miséria toda: ele é o IVA, ele é o imposto da gasolina; agora é o PEC, mais um imposto."
Quando pronunciou PEC, o zeloso taxista hesitou. Mas rapidamente voltou à carga: "Eu pago bastantes impostos, pago mesmo bastantes impostos."
A expressão "bastantes" intrigou-me. Ou se pagam os impostos devidos, ou não: agora ninguém paga impostos "quanto baste".
O PEC só é um pesadelo para os comerciantes em geral, porque como não têm colecta suficiente de IRC/IRS - ou seja, porque como não declaram uma parte significativa dos seus proveitos - acabam por não deduzir este montante pago antecipadamente (o PEC é, como o nome indica, um pagamento por conta).
Decidi manter a minha postura habitual, e não interrompi o monólogo. Como frequentador habitual dos táxis de Lisboa, aprendi que aí se deve entrar calado e sair mudo. E não contrariar. Só gasto o meu latim nos normais procedimentos de pagamento. Desta vez, porém, com uma malícia normalmente inexistente: "Ora tome lá, os seus cinco euros e vinte cêntimos; e já agora, era um recibinho por favor!".
Rodrigo Adão da Fonseca