19.4.05

PESSOAS COMUNS

O meu prezado amigo e colega na blogosfera Carlos Furtado (link não disponível) é, segundo a comunicação social de hoje, um dos notáveis que pretende guindar José Ribeiro e Castro à liderança do CDS. Entre outros compromissos, Carlos Furtado terá assumido, presume-se que em nome do seu candidato, o de «abrir o CDS à sociedade civil».
Independentemente do que se possa entender pelo conceito em causa, começa a ser um pouco recorrente e entediante o apelo à dita «sociedade civil», ou aos «independentes», como usa dizer-se no PS e no PSD, por parte dos políticos em campanha.
Ora, acontece que os partidos, todos eles sem excepção, se quisessem verdadeiramente «abrir-se» já o teriam feito há muito tempo. Tiveram trinta anos de democracia para o fazer. Pelo contrário, o que é público e notório, é que cada vez mais eles se cristalizam em torno de «elites» burocráticas que dominam os aparelhos, as «jotas», os «federações» de trabalhadores, de mulheres e das mais variadas minorias e maiorias estatutárias. Esta gente se, por um lado, é quem verdadeiramente manda nos partidos, é, por outro, quem acaba, mais tarde ou mais cedo, por mandar no país. Por isso, a preservação dessas posições e lugares é-lhes vital, sendo, por consequência, de excluir imediatamente quem quer que possa pô-los em causa.
Isto originou um efeito perverso na política portuguesa, que se pode traduzir por um divórcio profundo entre a classe política (uma minoria cada vez mais proteccionista do seu estatuto e das suas posições) e a dita «sociedade civil», a que eu chamaria, por simplicidade, as pessoas comuns. E essas pessoas têm cada vez menos pachorra para aturar
os «jotas», as eleições marteladas para as estruturas partidárias, as «cacicagens», os «quartéis de bombeiros» a votar em massa na lista do comandante, etc.
Não basta, por conseguinte, anunciar a intenção de «abrir» um partido à «sociedade civil». É necessário convencê-la a fazer o favor de prestar alguma atenção à realidade partidária e, essencialmente, explicar de forma clara como se processará a dita «abertura». Tudo o mais são, como usa dizer-se em Terras de Vera Cruz, promessas de candidato.