Durante largos meses, li e ouvi insinuações e piadas sobre o irrealismo do liberalismo e de muito do que se escrevia e escreve no Blasfémias. Basicamente, por aqui se promoveria um liberalismo bacteriologicamente puro, indefensável no contexto político português, condenado quase às cavernas.
Hoje, ao ouvir Pacheco Pereira e Lobo Xavier apresentarem abertamente, sem reservas e «cláusulas de salvaguarda» muitas das ideias centrais do liberalismo que aqui se defende, e não um liberalismo mitigado - vendo, também, o embaraço estampado no rosto de Jorge Coelho, argumentando timidamente e sem grande convicção com a «solidariedade» e com a «justiça social» - pensei para com os meus botões: como as coisas estão realmente a mudar!
De facto, o corpo central do ideário liberal está, cada vez mais, na ordem do dia, e começa a apresentar-se como verdadeira alternativa e solução credível para os problemas estruturais que o país enfrenta. Hoje, Lobo Xavier e Pacheco Pereira não se limitaram a diagnosticar a «doença do Estado Social»; afirmaram claramente que o actual modelo não é sustentável, advogaram uma mudança do paradigma. Fizeram-no sem rodeios. Ao ponto de Jorge Coelho, visivelmente surpreendido, afirmar: «Vocês querem acabar com tudo isto». Foi um debate distinto o que se assistiu na SIC Notícias. Não sei se JPP e ALX se aperceberam, mas de facto, visto de casa, o resultado foi - pelo menos para mim - surpreendente.
A emergência do liberalismo em Portugal é já uma realidade; tenho notado nos últimos tempos com satisfação que a receptividade às nossas ideias é cada vez maior, não só por parte de cidadãos anónimos como também daqueles que em Portugal veiculam a opinião. Em muitos casos, a adesão às novas ideias é consciente; noutros, o que se verifica é a entrada subtil do liberalismo no mainstream. O caminho a percorrer é ainda longo e penoso (são já muitos os anos vividos sob o signo do pensamento de raíz socialista, e complexos os desafios que se colocam para reformar a sociedade portuguesa); agora, todo o esforço que muitos têm feito começa a dar frutos, e o que parece evidente é que as coisas estão mesmo a mudar!
Rodrigo Adão da Fonseca