27.10.05

Como Foste Nessa?

Foi só por manifesta falta de tempo que ainda não escrevi um post sobre a última crónica de Ana Sá Lopes no Público e a sua interpretação do cavaquismo:

«A mitologia cavaquista - e a adesão popular que conseguiu durante quase 10 anos - é um dos fenómenos mais interessantes da política contemporânea portuguesa. Vinte anos depois de ter chegado ao poder com a aura de "político não profissional" e "especialista em finanças", Cavaco Silva regressa invocando a sua categoria de "político não profissional" e "especialista em finanças". É como se o hiato de dez anos em que Cavaco Silva esteve afastado da vida política activa, depois de ter sido derrotado nas presidenciais por Jorge Sampaio, tivessem o condão de apagar todo o "disco rígido" do passado profissional de Cavaco Silva enquanto político e enquanto gestor de finanças do país. Ao candidato só faltou, no Centro Cultural de Belém, vestir a toga branca e virginal com que os candidatos ao senado de Roma se passeavam na rua de modo a ser facilmente identificados. O cavaquismo nunca existiu e o disco rígido nacional, aparentemente, foi destruído por uma qualquer incapacidade do cérebro informático.»

Aqui notam-se 3 ou 4 ou 7 coisas, e elas não são assim grandes coisas.

Uma, a Ana está piursa porque acha que Cavaco vai ganhar. Duas, a Ana não compreendeu nada do que se passou em Portugal durante os anos do cavaquismo. Três, quatro e cinco, a Ana não é capaz de perceber que a memória dos portugueses faz-se não só do cavaquismo, mas também do aC e, principalmente, do dC. E é também por causa do dC que Cavaco fica a ganhar. E seis e sete e por aí fora.

É que para Cavaco, mais importante do que apagar o disco rígido dos dez anos de cavaquismo, é não deixar que se apague o disco dos dez anos do pós-cavaquismo.

Pronto, eu ia escrever sobre isto e dizer qua a crónica era fracota mas já não vou. Apesar da chuva o Ivan chegou-se à praia, e o Ivan foi terrível. Resolveu dizer que a coisa é brilhante, muito brilhante, encadeante, um milagre da concisão, para lá do melhor que há e fica assente que Ana Sá Lopes é a melhor cronista do reino desde Fernão Lopes e até se subentende que a Vanessa mete num canto o Adrian Mole, a Pimpinha Jardim e o Fernando Rosas.

Ia escrever, mas já não vou. Resigno-me. Perante tamanha loa, já não restam palavras.