Interesses não representados e de que ninguém falou, salvo Carmona Rodrigues, mas de forma algo soft e indirecta: os dos utilizadores, directos ou indirectos, passageiros ou seus dependentes, que irão garantidamente perder. Os de Lisboa, forçados a deslocarem-se mais de 50 kms, os das áreas de influência do Porto e de Faro, forçados a deslocações de mais de 200 kms pela perda gradual de voos dos respectivos aeroportos em prol da forçada rendibilização da Ota.
Duas verdades absolutas estiveram em evidência ao longo de todo o debate, obviamente a terem de ser aceites como dogma e sem necessidade de qualquer fundamentação. São elas:
- A Portela estará saturada em 2016;
- A Portela + 1 não é solução.
Mas a tirada centralista da noite pertenceu a Mário Lino quando afirmou que a Ota não será o aeroporto de Lisboa, mas sim do País (!!!). Milhões de portugueses terão ficado na altura comovidíssimos por tamanha dádiva. Logo a seguir, vem a mania das grandezas e a eterna obsessão com Madrid-Barajas, que ameaça atrair tudo quanto é viajante português e por isso necessita de resposta gigantescamente à altura.
Garantias mil de que Pedras Rubras é uma peça importante na estratégia aeroportuária nacional e de que não se abandonou o projecto da linha ferroviária Porto-Vigo. Só que custaria 2.200 milhões de euros e não tinha a prioridade das linhas Lisboa-Porto ou Madrid-Lisboa (Mário Lino esqueceu-se aqui de falar no custo destas e na 3ª travessia do Tejo). A crise é um facto, portanto concentrem-se ainda mais os mega-investimentos na região de Lisboa, cujo impacto na economia nacional, já constitui "matéria amplamente estudada". É óbvio que à linha Porto-Vigo deve ser dada uma prioridade "terciária" ou "quaternária": com sua hipotética entrada em funcionamento antes de construída a Ota, correr-se-ia o grave risco de o aeroporto de Pedras Rubras ganhar massa crítica com a conquista do mercado galego, tornando-se então bastante mais difícil atrair passageiros do Norte para a Ota. Mário Lino não explicou a urgência da linha Madrid-Lisboa, mas mais adiante reconheceu que a sua entrada em funcionamento antes de finalizado o aeroporto da Ota atrairia mais passageiros para Madrid, coisa pelos vistos mais prioritária do que ganhar passageiros à Galiza.
Cenário assustador foi o aventado por José Manuel Viegas quando afirmou que serviço decente na futura linha de TGV Lisboa-Porto só era compatível com pelos menos 18 a 20 comboios por dia. O ministro ainda não teria pensado em tanta carruagem e anuiu imediata e gulosamente. Ora, isto significa que irão viajar diariamente e só em alta velocidade, 10.000 pessoas em cada direcção, o que só será possível com preços atractivos. Preços atractivos para alguns significam... mais impostos para todos.
No final, Mário Lino trocou completamente os pés pelas mãos ao responder a uma provocaçãozinha de Carmona Rodrigues quando comentou a tentação privatizadora (da ANA) num ex-comunista. Que não, o Governo não decidiu qualquer privatização da ANA e, se amanhã tal for decidido, isso será completamente independente do projecto da Ota. Aqui fiquei totalmente intrigado:
Então não será a ANA o principal operador na construção e exploração da Ota? Mas se vai permanecer pública, onde é que entram os famosos privados que irão financiar o grosso do projecto???
Instintivamente, protegi a carteira...