a mistura entre política e moral começa logo na sua premissa 1:
Premissa 1: Onde não há escolha não há moral.
Supor que os liberais em especial (e não os benfiquistas) têm forçosamente que aceitar esta premissa, é supor que os liberais têm que ter, enquanto liberais, uma posição definida sobre questões de moral privada.
Os liberais que escrevem nos blogs citados pelo Tiago escrevem normalmente sobre política e definem-se como liberais no que diz respeito à política. As posições morais que possam ter não são conhecidas nem interessam para o tipo de discussão pública em que querem participar. O liberalismo não tem que ser para cada um uma identidade que se lhe cola para sempre e em todos os aspectos da sua vida.
Em política, a expressão «Onde não há escolha não há moral» é uma expressão vazia porque nenhuma lei deve resultar de teorias morais. As leis devem derivar dos direitos negativos dos indivíduos podendo dar-se o caso de, num mundo em que as consequências de uma acção não são totalmente previsíveis, haver responsabilidade individual sem que tenha havido uma escolha concreta do desfecho final.
Acresce a isto que a premissa 1 é o resultado de uma tentativa de criar a moral racionalisticamente. Um projecto que só seria possível num mundo em que todos estão perfeitamente informados e em que todos seguem rigorosamente as regras da lógica. Como este mundo está longe de satisfazer as exigências necessárias, o liberalismo não pode ter uma moral. A solução liberal para este problema é como sempre a liberdade de escolha e a concorrência entre vários sistemas morais.
Dado que o mundo em que vivemos é extremamente complexo e poucos têm tempo para se dedicarem ao estudo das teorias morais, o que a maior parte das pessoas faz, ainda que inconscientemente, é aderir a uma tradição. Uma atitude perfeitamente racional porque as tradições tendem a acumular conhecimento disperso no espaço e no tempo e que não pode ser obtido pela via racionalista.
Note-se que um liberal, nas suas opções morais, não tem que se preocupar com os direitos fundamentais porque esses são garantidos à partida pela lei. Um liberal na sua vida privada só tem que pensar na melhor forma de viver a sua vida, sabendo sempre que, numa sociedade liberal sofrerá as consequências pelas suas opções e que as consequências das suas decisões são sempre limitadas pelas decisões dos outros. Numa sociedade liberal, os indivíduos podem praticar discriminação privada rejeitando aquilo ou aqueles de que não gostam por razões próprios e sem terem que dar justificações públicas. A discriminação privada não é preocupante porque, apesar de não ser limitada pela lei, é limitada pela existência de múltiplos centros de decisão em concorrência entre si. É por isso que a vida privada não tem que seguir regras tão rigorosas como a vida pública existindo espaço quer para as ideias tradicionais quer para as ideias progressistas.
Em conclusão: ums pessoa que é liberal no sentido político do termo pode-o ser por razões que não se aplicam à moral privada pelo que nesse caso um indivíduo pode ser liberal no que respeita às questões públicas e ao mesmo tempo pode seguir em privado qualquer teoria moral que lhe apeteça.