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Outra será dizer que o Estado, numa acepção liberal, deverá permanecer «neutro», concluindo-se, extraordinariamente, que esta neutralidade se consubstancia em fechar os olhos ao cumprimento da lei e consentir na permanência desses símbolos; ignorar que a laicidade não é uma doutrina mas sim o cumular da posição equidistante dos poderes públicos perante a questão religiosa, é negar a história e tentar reescrever o liberalismo à custa daquilo que o próprio liberalismo quis ultrapassar.
Outra, ainda, consiste em inserir no debate o argumento ideológico - fazer isto «é socialismo» - confundindo, intencionalmente, uma discussão em que a ideologia política não deve ter lugar.
Mas a pior de todas, porque eivada de irrecuperável má-fé, é negar o profundo condicionamento comportamental que a profusão de símbolos religiosos em locais públicos importa; como é possível alegar seriamente que a generalidade das criancinhas, após deixarem de o ser, poderão perfeitamente ultrapassar essa circunstância formativa e tomar decisão distinta daquela que o seu ambiente circundante lhes ensinou como natural e aconselhável?
Pena é que os muitos que defendem esta ilusão tão etereamente teórica não consigam encontrar no seu próprio percurso as razões para estarem a defender tais paradoxos.