Sá Carneiro fundou o PPD, mas não se circunscrevia a este. Era uma enorme esperança para muitos mais que não se reviam naquele partido.
Depois da sua morte o PPD/PSD tornou-se a imagem daqueles que o eram, e os muitos que nunca o tinham sido (antes pelo contrário) mas que souberam aproveitar a sua janela de oportunidade para lá entrar ? o PSD nunca mais foi ?Sá Carneirista?. Nunca mais contestou ou fez rupturas com o regime ? adaptou-se-lhe e tornou-se um dos seus pilares fundamentais. Nunca mais foi um factor de mudança. Nunca mais quis ser a voz incomodativa, ?intratável? como chamavam a Sá Carneiro. O PSD prescindiu para sempre das suas nobres origens de dar voz à insatisfação democrática, de fazer gáudio do seu descontentamento com o que está. O PSD dos últimos 20 anos é um partido acomodado de comodistas sem a mínima vontade de alteração do status quo .
O PSD de hoje, efectuado há muito o assassínio ritual do seu pai fundador, é a negação viva de quase tudo o que Sá Carneiro representava.
P.S. (1) Excelente o documentário de Cândida Pinto, que a SIC transmitiu ontem à noite, acerca de Snu Abecassis, particularmente o momento em que foram referidas as críticas que Mário Soares, de braço dado com os sectores mais graníticos da igreja (os "catolaicos" na feliz expressão de Miguel Veiga), dirigiram a Sá Carneiro e Snu por viverem juntos sem serem casados - aguardo o documentário de hoje sobre a vida do maior português da 2ª metade do séc. XX.
(2) O presidente da Comissão de Honra de Cavaco Silva também se juntou às lamúrias oficiais ou teve a decência de ficar em silêncio?