Enfim, não pretendo escrever propriamente sobre "bola", mas (re)avivar a discussão dita "provinciana" sobre o pinhal, tentando abstrair de qualquer clubite doentia, para a qual descambaram a grande maioria dos comentários a esta posta do CAA. Como pressuposto de base, vou considerar que o "factor casa" não existe numa final, independentemente do estádio em que ela se realiza. A minha intenção é analisar o evento "final da Taça" numa perspectiva mais "política" e, já agora, também "económica". Assim, e numa óptica política:
###
- A fixação de um local para a realização da final da Taça, remete de facto para um arcaico centralismo, de teor retintamente salazarista;
- Está subjacente a um tal centralismo que, qualquer evento de "dimensão nacional", só pode ser realizado na capital ou nas suas redondezas;
- Isto comporta ainda um claro segregacionismo: nenhum cidadão que viva fora da capital e arredores tem o direito de assistir in locco a tais eventos se não estiver disposto a deslocar-se;
- Não releva o argumento da tradição, que apenas se aplica em Inglaterra, onde aquela faz lei. Se de facto existisse tradição em Portugal, a final não necessitaria de ser imposta por decreto da Federação. Assim, estivesse aquela bem arreigada, qualquer final que opusesse o Bragança e o Mirandela ou o Tavira e o Esperança de Lagos, clubes e respectivos adeptos demandariam alegremente Oeiras, rejeitando instintiva e liminarmente qualquer hipótese de se confrontarem num local mais perto e acessível a todos;
- Se o objectivo é emularmos o que se passa noutros países, temos vários exemplos de finais itinerantes: em Espanha, na Alemanha ou na Holanda, o local só é escolhido após se apurarem os finalistas; em Itália, e julgo que noutros países, a final é disputada em 2 mãos;
- As condições do estádio de Oeiras não são, pelos vistos, recomendáveis. Parece que já nem serve para os treinos da selecção, que obrigou o contribuinte a pagar-lhe novo centro de estágio em Évora...
- Mas hoje temos, feliz ou infelizmente, vários estádios alternativos espalhados pelo país, com idêntica ou superior lotação e bem melhores condições que o Jamor e a mendigarem desesperadamente por mais uso.
Numa perspectiva económica:
- O peso do futebol é irrelevante na economia do país como um todo, mas pode pode ter algum impacto em pequenas comunidades;
- Deslocarem-se 30.000 pessoas a Lisboa uma vez por ano devido à final, não tem peso significativo na economia de uma cidade com eventos permanentes;
- O efeito já será bem diferente no comércio local, se as mesmas 30.000 pessoas forem consumir durante um dia no ano para Guimarães, Aveiro, Coimbra, Leiria ou Faro;
- Donde decorre que, a eternização da final na Cruz Quebrada é mais um dos muitos factores de drenagem de recursos da periferia pobre para a capital rica;
- Como o é o facto de lá se realizarem o Estoril Open, campeonatos internacionais de cross ou de natação e lá funcionarem escolas de futebol ou de outras modalidades. Se os proveitos ficam quase todos na capital e arredores, então seria justo que os custos e manutenção de tais estruturas fossem municipalizados ou "metropolitanizados", Caro JCD.
Em suma, a minha proposta "liberal" seria esta: final em local itinerante, a acordar pelas equipes finalistas. A Luz, o Dragão e Alvalade, seriam decerto os estádios mais escolhidos, pois permitiriam maximizar as receitas. Se não chegassem a acordo, a Federação interviria e escolheria um estádio o mais equidistante possível para ambas as equipas. Se os custos de deslocação são iguais para todos, não se sobrecarregue apenas um dos lados.