fernanda câncio tenta virar do avesso os estudos de robert fogel alegando que fogel, ao mostrar que os escravos do sul dos eua viviam tão bem como os operários do norte, não prova que os escravos viviam bem mas que os capitalistas do norte eram uns exploradores do trabalho dos operários. esta tese de fernanda tem dois problemas. por um lado, fernanda não explica como é que o operário do início do século xix poderia ter o nível de vida do operário sueco do século xx. talvez tenha escapado a fernanda que o desenvolvimento económico é cumulativo e que não é possível ter nas primeiras décadas do século xix aquilo que só se acumulou muito mais tarde. não é possível ter nas primeiras décadas do século xix aquilo aquilo a que fernanda se habituou no século xx. o segundo problema é que o próprio fogel defende que os escravos recebiam de volta sob a forma de bens e serviços quase tudo o que produziam (90%) sendo o nível de exploração estimado bastante baixo.
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mas o que é importante nesta discussão é mesmo a confusão entre juizos de facto e juizos de valor. fernanda acha que não devem ser separados. só que a mistura entre juizos de factos e juizos de valor conduz inevitavelmente a juizos de valor inaceitáveis. fernanda, ao achar que as condições de vida dos escravos são essenciais para o juizo de valor sobre a escravatura coloca-se numa posição insustentável. por exemplo, seria obrigada a considerar moralmente aceitável toda a escravatura em que os escravos vivessem como lordes.
fernanda coloca-se numa posição tal que dá a impressão que o que a leva a condenar a escravatura e o capitalismo não é a violação de valores fundamentais mas sim as condições materiais de escravos e operários. se assim é, o que duvido, fernanda está muito longe do liberalismo. um liberal baseia o seu juizo sobre a escravatura e o capitalismo num único valor, a liberdade. um liberal condena a escravatura porque ela se baseia na violação da liberdade do escravo e aprova o capitalismo porque ele se baseia na liberdade individual de todos. um liberal condenaria a escravatura mesmo que os escravos vivessem como lordes e aprovaria o capitalismo mesmo que num sistema capitalista se vivesse miseravelmente.