12.7.04

O (meu) FIM


Comecei há 1 ano e 43 dias. O que é uma linda idade nesta escala virtual. Estive no Mata-Mouros, onde o meu maior prazer foi escrevinhar num guardanapo o texto-divisa QUEM SÃO OS MOUROS QUE QUEREMOS MATAR?, no dia do princípio, quando estava a jantar com o CL.

Por artes da Sara, depois veio o Blasfémias. Com mais corpo, mais pensado e com mais sentido estratégico. Com o rui a., o Gabriel e o PMF a garantirem que a coisa ia ser séria. Depois chegou o João Miranda. Na semana passada, o AAA. Todos liberais, todos do Porto e todos dispostos a blasfemarem sem freios.

Mas blogar é como ter uma amante - o incremento dos protestos da minha mulher fazem-me mesmo acreditar nesta analogia - demasiado exigente em atenção. É preciso tempo, muito tempo.

Depois, num blogue político como o Blasfémias, é imprescindível estar em cima do acontecimento e ter opinião formada mais agilmente do que o Lucky Luke, sobre quem constava que era mais rápido a disparar do que a própria sombra. O que nos faz descuidar, precipitar e escrever o imediato. O que é difícil e intelectualmente perigoso. E precisa de tempo, muito tempo.

Julgo que o momento é bem escolhido - os tempos que aí vêem serão de hibernação para os poucos que ainda cuidam que a política tem um sentido.

O blogue fica muito bem entregue. Sem falsas modéstias, é um dos melhores entre os melhores.
Mas também me é muito difícil encarar o isolamento perante o recente triunfo do nada ideológico e da frívola jovialidade que aqui despertou. Este é o grande perigo que um grupo da dimensão do Blasfémias terá de superar: evitar tornar-se num blogue domado, até menor, tipo este, mas sem o perfume do poder que mascara o dever funcional de opinar.
Além de não cair na armadilha em que quase todos os liberais portugueses desabam grosseiramente que é apoiar os que se julgam ser os "menos maus" e que sempre se revelam os piores. Também esta batalha seria possível travar dentro do Blasfémias - mas era preciso tempo, muito tempo.

Este não é o único projecto que a falta de tempo me obriga a deixar. Quando tiver tempo para ter tempo, voltarei a blasfemar.