12.7.04

UM PESADELO SHAKESPEARIANO

Julgo que a obra de Shakespeare nos pode dar lições valiosas para os tempos políticos que estamos a viver - sobre cuja análise penso ser indiferente a
ideologia. Para além do "Julius Caesar", temos o "Ricardo III" personagem que, irresistivelmente, me faz lembrar aquele ministro que está prestes a mudar de pasta ("O meu reino por um submarino"), o Iago do "Othello" e tantos mais.

Aliás, nos últimos dias tenho tido um pesadelo a propósito de um passo de uma peça de Shakespeare, "A Segunda Parte de Henrique IV".
Quando o jovem príncipe Henrique - que passava os dias nas tabernas, entre meliantes sem ocupação digna e mulheres de supostamente indigna ocupação - se torna o Rei Henrique V, o seu velho amigo das noitadas e bebedeiras, Falstaff, acerca-se dele em
busca dos favores tanto esperados:
- My King! my Jove! I speak to thee, my heart!
(ao que o Rei respondeu)
- I know thee not, old man: fall to thy prayers;
(...) I have long dream'd of such a kin of man,
(...) But, being awak'd, i do despise my dream.


O Rei rejeitou o seu passado e não levou para o poder a carga de lixo que o acompanhava enquanto apenas era príncipe. E foi o Rei mais bem amado de toda a alegre Inglaterra...

Quanto mais penso nisso, lembro-me da solução que vem aí - e que todos, incluindo eu próprio,
afirmam transitória pela natureza da sua fragilidade pessoal.
O homem do Casino que nunca existiu pode deixar para trás as "Caras" do seu passado e encontrar-se com um destino maior do que ele próprio.

Será? Eu não acredito! Mas Shakespeare lá teria as suas razões.