A acção de "hierarquizar escolhas de vida", que tanto repugna o meu amigo CAA, é uma parte imprescindível da responsabilidade individual a qual, por sua vez, é indissociável da liberdade. A liberdade implica não só a oportunidade de escolher mas também a correspondente e integral responsabilidade pelos custos das escolhas realizadas. Nesse sentido, creio que deveria ser claro para qualquer liberal (pelo menos para qualquer liberal clássico) que a liberdade é inseparável da aceitação de todas as consequências que decorrem das escolhas em liberdade, incluindo os elogios ou as críticas que eventualmente sejam dirigidas aos indivíduos pelas suas escolhas.
Mas confesso que o que mais me preocupa aqui é a desvalorização da importância dos princípios morais numa perspectiva liberal (algo que, embora discordando, me parece coerente e até "natural" no caso da perspectiva socialista de VM). É que, de todas as instituições, as normas morais são provavelmente as mais importantes para o funcionamento de uma ordem liberal (entendida no sentido de minimizar a coerção exercida sobre os indivíduos). Sobre este assunto, peço ao meu amigo CAA que reflicta sobre estas palavras de Hayek:
It is indeed a truth, which all the great apostles of freedom outside the rationalistic school have never tired of emphasizing, that freedom has never worked without deeply ingrained moral beliefs and that coercion can be reduced to a minimum only where individuals can be expected as a rule to conform voluntarily to certain principles. (Constitution of Liberty, p. 62)
Por mim, não tenho dúvidas: as afirmações de Buttiglione que o "repugnaram" são bem mais liberais do que a crítica de CAA a essas mesmas afirmações.